Título: Daniel Dantas vai detalhar disputa por Brasil Telecom na CPI dos Correios
Autor: Irany Tereza e Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2005, Nacional, p. A16

O depoimento do sócio do Banco Opportunity Daniel Dantas à CPI dos Correios, no dia 21, deve revelar os detalhes de três encontros em maio de 2003 com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, em Brasília, e um áspero diálogo do banqueiro com o então presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, na mesma época. Todas as conversas, na versão de Dantas, giraram em torno da disputa pelo controle da Brasil Telecom, a terceira maior operadora de telefonia do País. Dirceu e Cássio Casseb teriam sido emissários de uma decisão do governo de limitar o controle da operadora aos fundos de pensão de estatais para repassá-lo depois a empresas que escolhesse.

A convocação de Dantas deve-se principalmente a suspeitas de que recursos das operadoras Telemig Celular e Amazônia Celular, que também eram geridas pelo Opportunity, possam ter irrigado o esquema do publicitário Marcos Valério para distribuição do mensalão. As duas empresas de celulares lideram a lista de depositantes de recursos à SMPB, agência de publicidade de Valério.

A amigos, Dantas sustenta que foi apenas apresentado ao publicitário uma vez, por um executivo das operadoras. Garante que não conhece o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares nem nenhum dirigente nacional do partido e a única aproximação que teve com integrantes do governo foi no encontro promovido por Dirceu.

Na versão do banqueiro, o governo do PT pressionou diretamente o Opportunity a deixar a Brasil Telecom com a intenção inicial de passar o controle da operadora à Telecom Italia. Depois, a estratégia do governo seria, ainda segundo Dantas, entregar a companhia à Telemar.

Tudo isso foi minuciosamente descrito por ele em e-mails enviados a Mary Lynn Putney, executiva do Citigroup, aos quais o Estado teve acesso.

DIÁLOGO

Dirceu foi descrito por ele, nos e-mails, como 'o braço direito' do presidente Lula. No primeiro encontro, em 4 de maio, o ministro foi cortês e evitou entrar diretamente no assunto, sugerindo, segundo Dantas descreve na correspondência, que o homem certo para 'resolver o problema' era Cássio Casseb.

O Banco do Brasil, que Casseb presidia, é o principal patrocinador da Previ, fundo de pensão que participa do controle da Brasil Telecom ao lado dos fundos Funcef (da Caixa Econômica) e Petros (da Petrobrás).

Casseb teria informado sobre a decisão de desfazer o acordo de acionistas do Opportunity com os fundos de pensão. Dantas perguntou se havia alguma coisa a ser ganha em troca e recebeu um não como resposta.

A partir daí, a reunião foi descrita, de acordo com um e-mail enviado por Dantas a Mary Lynn, em 14 de maio de 2003, da seguinte forma, com a insinuação de que a compra da participação dos fundos somente seria possível com ágio no preço.

'Ele me perguntou diretamente se eu faria ou não (a saída). Eu disse a ele que tinha que consultar nossos investidores. - Quais investidores? - ele perguntou. - O Citigroup, por exemplo - eu respondi. Ele disse que entendia que a decisão cabia a mim, e que ele estava falando em nome do governo.

Eu perguntei se os fundos não estariam interessados em vender. Ele disse:

- Não por um preço justo.'

Dantas relatou que Casseb deu um ultimato: dois dias para comunicar a saída da BrT, sem qualquer contrapartida. Em outros e-mails, o banqueiro disse que Dirceu teria se afastado da questão, por entender tratar-se de um assunto privado e não de governo. Houve ainda um terceiro encontro, no qual o ministro garantiu que o governo não se envolveria no assunto.

Naquele mesmo ano, o Opportunity foi destituído da gestão dos investimentos dos fundos de pensão e, meses depois, também foi afastado pelo Citibank.