Título: Severino insiste na versão de caixa 2
Autor: Eugênia Lopes e Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2005, Nacional, p. A12

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), agarrou-se ontem a um fio de esperança para continuar no cargo: o comprovante da emissão de um bilhete da TAM mostrando que o filho, Severino Júnior, já falecido, esteve em Brasília em 30 de julho de 2002. A data é a mesma em que foi descontado o cheque de R$ 7,5 mil que o empresário Sebastião Buani, dono do restaurante da Câmara, alega ter dado a Severino como pagamento do mensalinho para manter a concessão para exploração do negócio. Severino espera reforçar a tese de que o dinheiro foi um empréstimo tomado por Júnior para financiar a sua campanha de deputado estadual por Pernambuco. O bilhete foi mostrado à imprensa pelo advogado José Eduardo Alckmin, no início da noite, a pedido de Severino.

Alckmin exibiu outro bilhete de passagem, de 14 de agosto, para justificar a suposição de que Júnior retornou duas semanas depois a Brasília para pagar o empréstimo: "É um argumento a mais em favor da tese do empréstimo. Não há outros, porque ele morreu. Só se fôssemos a um centro espírita."

Segundo o advogado, o empréstimo foi tomado sem o conhecimento de Severino - embora o saque tenha sido efetuado pela sua secretária pessoal, Gabriela Kênia. "Havia uma anotação de R$ 690, valor descontado do cheque", disse Alckmin, dando a entender que se tratava de juro de agiotagem. "É voz corrente que Buani emprestava dinheiro."

Alckmin considerou precipitada a conclusão da Polícia Federal, de que há "indícios veementes" de crime cometido por Severino, ao enviar o inquérito ao Supremo Tribunal Federal (STF), anteontem.

LULA

Na expectativa de reunir-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início da semana, Severino deixou em "banho maria" a decisão que vai tomar sobre sua permanência ou não na Presidência da Câmara.

Ele passou o dia ontem na residência oficial. Hoje, deverá receber um grupo de deputados aliados para conversar sobre o seu futuro. A hipótese mais provável, de acordo com interlocutores de Severino, é que ele renuncie à presidência da Câmara, mas mantenha o mandato parlamentar.

Os aliados não descartam, no entanto, uma licença do cargo. "Todos os companheiros de partido acham que ele deveria pedir uma licença até que as denúncias sejam apuradas", afirmou o deputado Mário Negromonte (PP-BA).

Se Severino optar pela licença, o comando da Câmara ficará com a oposição, nas mãos do primeiro-vice-presidente, José Thomaz Nonô (PFL-AL). O eventual pedido de licença foi encarado pelo Palácio do Planalto como uma ameaça e represália ao fato de Lula não ter recebido Severino anteontem, para um encontro informal.

Lula avisou que só receberá Severino no início da semana, depois de um pedido formal de audiência.