Título: Tarso diz que CPIs perderam o foco
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2005, Nacional, p. A8

Porto Alegre - O presidente interino do PT, Tarso Genro, fez duras críticas à atuação das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) que investigam denúncias como a do mensalão. Tarso afirmou que as CPIs perderam o foco e agora são instrumentos de ataque ao PT e ao governo Lula. Ao desconsiderar fatos que deveriam apurar, agem com ¿covardia¿, conforme o dirigente. ¿Sem nenhuma objetividade, sem nenhuma preocupação de busca com a verdade e com covardia perante fatos que eles teriam que investigar e não investigam¿, avaliou. Para Tarso, a maioria das sessões das CPIs tem sido ¿um palco exibicionista, de preparação eleitoral, de busca de reeleição e de ataques indiscriminados ao PT, abandonando o foco das investigações¿. Ele cobrou o aprofundamento das investigações, no discurso de abertura das eleições internas do PT, em Porto Alegre (RS), Na avaliação do dirigente, quando o PT assumiu suas responsabilidades, ¿as CPIs tinham que aprofundar as investigações e dizer quem mais, desde quando, por que, com que conexões, com que relações com o sistema financeiro esse processo ocorria e não está fazendo¿. Tarso pediu que a eleição interna do PT sirva como apelo para que as CPIs ¿retomem o foco¿.

No discurso para a militância, Tarso disse que se equivocam aqueles que acreditam na destruição do PT. ¿Não vão conseguir.¿ Segundo ele, está em curso a mais formidável tentativa de liquidação de um partido na história republicana brasileira. ¿Nunca neste país houve uma sigla tão atacada, tão vilipendiada, tão caluniada.¿

Tarso admitiu, porém, que muitas críticas ao PT são justas. O líder do PT na Câmara dos Deputados, Henrique Fontana (RS), também criticou os ataques ao PT. Ele defendeu uma guinada do partido à esquerda e a definição de uma estratégia para mostrar à opinião pública que apenas uma pequena parte da sigla cometeu ilegalidades. Ele evitou, entretanto, falar em expulsões ou cassações de mandatos. ¿Prefiro falar em garantia de processos éticos exemplares.¿ Mesmo assim, não evitou críticas aos antigos dirigentes partidários. ¿A crise nasceu de um conjunto de opções políticas que foram decididas majoritariamente.¿ Segundo ele, a maioria esmagadora de apenas uma corrente na gestão interna do PT acabou comprometendo a estrutura partidária. Para Fontana, esse quadro não deverá se repetir nas eleições de agora.

SOBERANIA

Na mesma linha, Tarso disse que também acredita numa renovação completa da direção. ¿Nenhuma chapa terá maioria absoluta, o que é saudável.¿ Segundo ele, a eleição será estratégica para que o novo núcleo de poder do PT não se legitime mais pela quantidade, e sim devido a articulações políticas.

O presidente do PT ainda recomendou um novo sistema de alianças e um programa de transição para um modelo de desenvolvimento que inclua ¿taxas altíssimas de crescimento¿ para apresentar ao governo tão logo se abra o processo de sucessão eleitoral. Até lá, Tarso defendeu a ¿soberania crítica¿ do PT em relação a Lula.

¿A eleição representará um novo pacto político interno. O método de fusão com o governo está superado.¿ Eleitor declarado do candidato à presidência nacional Ricardo Berzoini, do Campo Majoritário, Tarso votou às 9h45 na zona sul de Porto Alegre. A primeira prévia oficial do resultado nacional será divulgada hoje, ao meio-dia.