Título: Papa proíbe que gay se torne padre
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Vida&, p. A18

O papa Bento XVI aprovou no fim do mês passado um documento que proíbe que seminaristas homossexuais sejam ordenados padres. A informação foi publicada pela agência americana de notícias Catholic World News (CWN). O documento foi preparado pela Congregação para a Educação Católica em resposta a um pedido feito em 1994 pelo então papa, João Paulo II. Essa congregação é o braço do Vaticano responsável pelos seminários.

Classificado de instrução, o documento afirma que não devem ser admitidos nos seminários nem mesmo os homossexuais que tenham abdicado da vida sexual, porque, segundo a CWN, ¿a condição sugere um sério transtorno de personalidade que tira deles a habilidade de servir como padres¿.

A informação surge na semana seguinte à notícia de que o Vaticano pretende dar início a uma caça aos seminaristas gays americanos. A Santa Sé já indicou investigadores para inspecionar os mais de 200 seminários dos Estados Unidos, um dos países que mais têm despertado a preocupação da cúpula católica mundial, por causa dos escândalos de abuso sexual ¿ um estudo recente mostrou que 80% das vítimas de assédio eram meninos.

O Vaticano não confirmou oficialmente a notícia da CWN, mas fontes da Santa Sé informaram que um papel com o mesmo teor esteve recentemente no gabinete principal à espera da decisão do papa.

¿Se for verdade, será um desastre¿, afirmou um padre homossexual americano que pediu que seu nome não fosse publicado. ¿Conheço muitos padres gays e castos que sentem que não poderiam viver com integridade numa Igreja que trata os homossexuais dessa maneira.

E conheço muitos seminaristas gays que estão vivendo na castidade e que simplesmente teriam de sair.¿

DIFÍCIL DE APLICAR

¿É uma decisão fácil de ser aprovada, mas difícil de ser aplicada¿, avalia o professor de teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Fernando Altemeyer Jr. Segundo ele, não é fácil identificar quem é homossexual, a não ser que o próprio seminarista assuma a condição. ¿Se ele não diz, quem vai saber?¿

Caso se torne mesmo uma instrução, o professor diz que esse documento irá contra a determinação da Igreja Católica de que se deve agir com caridade em relação aos homossexuais. ¿Se o seminarista não está mantendo relações sexuais com ninguém, então não está cometendo nenhum pecado.¿

O diretor de um seminário do Estado de São Paulo, que não quis ser identificado, afirmou que, na hora de selecionar quem pode ingressar, leva em consideração a forma como o postulante se comporta. ¿Se ele se identifica como homossexual, é lógico que não o aceitamos¿, afirmou ele.

A instrução é assinada pelo cardeal Zenon Grocholewski e pelo arcebispo Michael Miller, respectivamente prefeito e secretário da Congregação para a Educação Católica. Fontes do Vaticano dizem que o documento deverá vir a público após o Sínodo dos Bispos, que ocorre no mês que vem, em Roma.