Título: Brasileiros enfrentam caos ao tentar sair de Houston
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2005, Internacional, p. A22

O cônsul-geral do Brasil em Houston, embaixador Carlos Alberto Azevedo Pimentel, demorou 25 horas para percorrer os 400 quilômetros da Rodovia 45 até Dallas, uma viagem que normalmente não leva mais de três horas e meia.Uma das diplomatas do consulado, a secretária Liana Musy, que partiu para Dallas com o marido pouco depois de Pimentel, na manhã da quinta-feira, voltou para casa após passar nada menos de 20 horas presa num congestionamento na saída de Houston. Outro diplomata, o secretário Arnaldo Sallert, enfrentou uma situação parecida, mas acabou buscando refúgio com a família num abrigo no meio do caminho. A secretária de Pimentel, Cristiane Manlove, gostaria de ter deixado a cidade, mas não conseguiu convencer o marido, o americano Devin. Prevendo a confusão nas estradas, ele optou por ficar e tomar as precauções de praxe antes de um furacão. Com a ajuda de um vizinho, pregou tapumes nas janelas e podou os galhos maiores das árvores do quintal que poderiam cair e danificar o telhado de sua casa.

"Na quinta-feira, quando o furacão estava na categoria 5, eu estava muito preocupada e cheguei até a chorar", contou Cristiane, ontem à tarde. Paulista de São José do Rio Preto, ela mora em Houston desde que se casou, em 1999. "Agora estou mais tranqüila", disse." Se o furacão continuar na categoria 3 quando bater em Galveston, terá provavelmente caído para categoria 2 quando chegar a Houston e nós estaremos bem."

As histórias das diferentes decisões e rumos que o cônsul e seus funcionários tomaram abarcam as possibilidades de os estimados 5 mil brasileiros que vivem na região de Houston enfrentaram antes da chegada do furacão. Este número compreende vários funcionários da Petrobrás e da Tramontina, duas das empresas brasileiras que têm representações importantes na cidade, mas não abrange os imigrantes brasileiros que estão em situação irregular.

"Decidi deixar a cidade porque não queria correr o risco de estar numa situação em que não poderia me comunicar com ninguém e prestar a assistência aos brasileiros, explicou Pimentel, ainda abalado com as críticas que recebeu de brasileiros surpreendidos em New Orleans pela catástrofe provocada pelo furacão Katrina. "Eu não poderia simplesmente ir a New Orleans quando havia uma ordem oficial de retirada da cidade", justificou Pimentel, cuja área de jurisdição abrange a Louisiana. Os brasileiros que buscarem informações nos próximos dias na linha telefônica de emergência instalada no consulado ficarão frustrados. "Tivemos de desligar o serviço, mas quem telefonar para meu número direto será atendido, pois as chamadas estão desviadas para meu celular", informou o cônsul.

Acompanhado da mulher e de duas famílias de funcionários do consulado, Pimentel chegou ao Hotel Sheraton em Dallas ontem às 6 horas da manhã, esgotado e um tanto contrariado por ter seguido a ordem de retirada dada na quarta-feira, quando o furacão Rita ganhou força e atingiu a categoria 5.

Segundo Pimentel, a demora em reverter o fluxo das estradas que saem de Houston para o norte e oeste, o que só aconteceu na quinta-feira, e a falta de um plano claro ajudaram a criar um congestionamento de mais de 400 quilômetros.

"Este foi um caos criado", disse ao Estado. "Era perfeitamente previsível que centenas de milhares de automóveis nas estradas causariam um problema instantâneo de abastecimento de combustível e foi o que aconteceu. Nós saímos com o tanque cheio e conseguimos chegar, mas outros viajantes tiveram menos sorte."