Título: Garimpeiros tentam as sobras
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2005, Economia & Negócios, p. B10

Debruçado na janela do antigo acampamento da Mineração Tejucana, às margens do Rio Jequitinhonha, Ronaldo de Paula Souza, 25 anos, conta uma história de desalento, que se tornou repetitiva entre os garimpeiros. "Está ruim demais, tudo parando e ninguém mais quer investir." Natural do Alto Jequitinhonha, Ronaldo começou a garimpar ainda garoto, influenciado pelo pai. Aos 14 anos, foi tentar a vida em Belo Horizonte e este ano retornou para Diamantina. Com mais seis garimpeiros, agora sonha em "acertar um bom dia" na cata às pedras. O grupo, porém, não disfarça o desânimo. "Está muito fraco", reforça Paulo Henrique Costa, 19 anos, que se viu obrigado a seguir a profissão do avô, do pai e dos irmãos porque não havia outra opção. "Mas hoje não se ganha praticamente nada. Na época do meu avô, na década de 50, era diferente, ainda se achava alguma coisa."

Resignados, os garimpeiros passam a maior parte do tempo no acampamento abandonado, que virou moradia. "Tem vez que a gente pega um cascalho, mas tira muito pouco. Os mais fortes comeram a carne e o resto agora tem de roer os ossos", resume Ronaldo.

As dificuldades atuais não impedem as "faisqueiras", na qual os garimpeiros trabalham como nos primórdios, usando só peneiras. Nelson Fernando de Jesus, 25 anos, no garimpo desde os 13, procura vestígio de diamante numa área já lavrada e assoreada do rio. No local, atuou com grande intensidade a Mineração Tejucana. Depois vieram as bombas e agora Nelson procura ganhar o sustento da família com as migalhas. "O que a bomba jogou fora a gente tenta aproveitar."

"Tinha muito cascalho, mas a draga acabou com tudo", reclama Marco Aurélio Sá, 22 anos, companheiro de Nelson na empreitada.

O que sobrou do antigo equipamento da Tejucana da qual ele fala está só a 100 metros de distância. A carcaça e peças de ferro e aço da draga enferrujam há mais de 10 anos na margem do rio.

Ademar Arcanjo Neto, 42 anos, mora ao lado, em um barraco simples. Franzino, ele se apresenta como guardião. Há alguns meses, Ademar recebeu do dono da draga abandonada a promessa de "um dinheirinho" para tomar conta do equipamento. "Ainda não recebi nada, mas é melhor do que o garimpo, que não vale a pena mais não."