Título: Para cobrar Lula, MST inicia onda de invasões
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2005, Nacional, p. A10

Sem-terra tomam 21 prédios do Incra e 8 do BB, 7 pedágios e 6 fazendas pelo País

O Movimento dos Sem-Terra (MST) desencadeou ontem em todo o País uma escalada de invasões de fazendas, praças de pedágio prédios públicos para cobrar a reforma agrária prometida pelo governo Lula. As ações fazem parte da jornada nacional de lutas do chamado "setembro vermelho". Segundo balanço divulgado pelo movimento, foram invadidos 21 prédios do Incra, 8 agências do Banco do Brasil e 7 pedágios, além de 6 fazendas. A mobilização envolveu militantes de 19 Estados. Também foram invadidas sedes do Incra nos Estados de São Paulo, Ceará, Alagoas, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Pará, Minas Gerais, Santa Catarina, Sergipe, Rio de Janeiro e Pernambuco. A direção nacional do movimento informou que as ações são uma forma de chamar a atenção e protestar contra o não cumprimento de sete pontos do acordo assinado no dia 17 de maio, em Brasília, no encerramento da marcha nacional pela reforma agrária.

No Paraná, a jornada começou às 7h30, com a ocupação da praça de pedágio da BR-277,em Cascavel. Uma hora depois, outras cinco praças tinham sido ocupadas. O MST paranaense apóia o governo estadual contra a cobrança de pedágio no Estado. As cancelas foram abertas e os motoristas passavam sem pagar, entre as fileiras de sem-terra. As concessionárias recorreram à Justiça.

A Polícia Militar esteve no pedágios, mas não confrontou os invasores. O presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de rodovias (ABCR), João Chiminazzo Neto, disse que a falta de ação policial foi "arbitrariedade" do governo estadual. As praças foram desocupadas a partir das 17 horas. A Secretaria de Segurança Pública divulgou nota informando ter agido de forma "imediata" para desocupar os pedágios.

No Rio Grande do Sul, foram invadidas três fazendas e um prédio público. A Bom Sossego, com cerca de 1mil hectares, em Palmeira das Missões, a 368 km de Porto Alegre, foi ocupada por 250 famílias. A propriedade pertence ao ex-presidente da Copalma, a cooperativa local, Ari Paulo Huning.

Em Santana do Livramento, a 488 quilômetros de Porto Alegre, 400 famílias invadiram uma área arrendada pela cervejaria Brahma. A invasão de terras pertencentes ao Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) da Secretaria Estadual de Transportes foi protagonizada por um grupo de trabalhadores desempregados da indústria calçadista.

Na capital sergipana, os sem-terra ocuparam a sede da Superintendência do Incra. O Estado tem 12 mil famílias acampadas e 6 mil assentadas.

Mil e quinhentas famílias invadiram a fazenda São Miguel, de 45mil hectares, entre os municípios de Una e Buritis, em Minas Gerais, e Cabeceiras, em Goiás. De acordo com a coordenação nacional, as manifestações prosseguem pelo menos até o fim do mês. Para o MST, o governo não atingirá a meta de assentar 400 mil famílias até 2006, como prometeu. O movimento quer mais agilidade na desapropriação de terras, a vigência dos novos índices de produtividade, mais elevados que os atuais, abertura de linhas de crédito para os assentados, distribuição de cestas básicas e a reestruturação do Incra.