Título: CMN mantém juros de longo prazo em 9,75%
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2005, Economia & Negócios, p. B7

Apesar da queda da inflação e do risco país, o Conselho Monetário Nacional (CMN) resolveu manter inalterada, em 9,75% ao ano, a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que corrige os empréstimos concedidos ao setor produtivo pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A TJLP, divulgada trimestralmente pelo CMN, é a mesma desde o segundo trimestre do ano passado. O diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), Alexandre Schwartsman, não quis especificar os motivos que levaram o conselho a manter a taxa inalterada. Disse apenas que o CMN não é obrigado a seguir a tendência de queda apontada pelo mercado e pelo próprio Comitê de Política Monetária (Copom), que fixa a taxa de juros básica da economia (Selic). "O CMN entendeu que não cabia alterar a taxa", disse, sem mais detalhes.

Schwartsman insistiu que a decisão do conselho era exatamente igual à referendada em junho e não quis comentar a melhoria do cenário econômico, que poderia justificar um comportamento menos conservador em relação às taxas de juros de longo prazo.

O diretor do BC explicou que, tecnicamente, a composição da taxa considerou que a expectativa de inflação do governo para os próximos 12 meses responde por 5,5% da taxa, enquanto o risco país, que mede os juros cobrados pelos títulos da dívida brasileira em relação à taxa paga pelos papéis do Tesouro dos Estados Unidos, ficou com os 4,25% restantes.

Em junho passado, no entanto, quando o CMN manteve a TJLP nos mesmos 9,75%, a composição divulgada foi diferente: a expectativa de inflação responderia por 4,5% e a taxa de risco país, por 5,25%.

Questionado sobre essa mudança dos indicadores que formam a TJLP, Shwarstman insistiu que isso não ocorreu e reforçou que não houve nenhuma mudança na composição da TJLP entre os meses de junho e setembro.

A Assessoria de Imprensa do BC também informou que não houve alteração na expectativa de inflação e tampouco do risco País. O BC argumentou que, se houve erro, ele ocorreu na divulgação da formação da taxa em junho porque os porcentuais de inflação e risco Brasil do voto de ontem "são rigorosamente" os mesmos citados há três meses. A TJLP é revista a cada três meses.

Diante da insistência dos repórteres em saber as justificativas para manter as taxas dos empréstimos do BNDES e do FAT e da possibilidade de essa decisão significar um temor do governo com os desdobramentos da crise política sobre a economia, ele reagiu: "Perguntem isso aos membros do CMN".

O executivo considerou, no entanto, que "não há uma tradução imediata" da taxa captada pelo mercado para uma decisão que tem um horizonte mais longo.