Título: Militância do PMDB chama Renan Calheiros de traidor
Autor: Kazuo Inoue
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2005, Nacional, p. A6

Em SC, Temer afirma que apoio de presidente do Senado a Aldo foi um ¿gesto indigno¿ e ¿ultrapassou qualquer limite da ética¿

FLORIANÓPOLIS - A multidão de militantes do PMDB, anunciada em mais de 5 mil pessoas de todas as regiões de Santa Catarina, chamava aos brados, no fim da manhã de ontem, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), de ¿traidor¿, por causa de seu apoio a Aldo Rebelo (PC do B-SP) na eleição à presidência da Câmara. Pouco depois, o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), apesar de já ter dito que não queria mais falar da derrota na disputa na Câmara, acusou: ¿O senador Renan Calheiros ultrapassou qualquer limite da ética com seu gesto indigno.¿ O ex-governador do Rio Anthony Garotinho, presidente do PMDB fluminense, foi igualmente duro no discurso. ¿Tenho a dizer que o PMDB não está à venda, nem Renan tem procuração para vender o PMDB¿, atacou. ¿Sua traição foi pública e o repúdio tem de ser público.¿

A eleição na Câmara acirrou o racha entre o PMDB governista e o oposicionista. Temer lançou sua candidatura dia 19 e obteve o apoio de Renan em seguida. No dia 21, senador chegou a organizar um almoço para ele e pedir apoio de deputados. À noite, porém, reuniu-se com o presidente Lula e de lá saiu disposto a defender o voto em Aldo. No dia seguinte, Renan chegou a elogiar Temer, para argumentar em seguida que sua candidatura não estava conseguindo apoio amplo na Câmara. ¿O fundamental é que tenhamos um presidente da Câmara com um perfil amplo. O Aldo tem esse perfil¿, afirmou.

¿Se fez isso, incentivar outro candidato, é um indivíduo reles¿, foi a primeira reação de Temer. Ele manteve a candidatura até a quarta-feira, dia da eleição, e aí renunciou em favor de José Thomaz Nonô (PFL-AL), com duro um discurso contra Renan. No segundo turno, Aldo venceu Nonô por 15 votos.

Desde então, o presidente do Senado é alvo de críticas de vários peemedebistas. A reunião ontem é exemplo disso. No final, aprovou por votação simbólica uma moção que acusa Renan de promover a divisão do partido, negociar cargos e trair Temer.

PALESTRA

O encontro foi o terceiro do PMDB para discutir seu projeto de governo. Em Palhoças, a 25 quilômetros de Florianópolis, sob duas grandes lonas de circo no gramado do Complexo Pedra Branca, que abriga o campus da Universidade do Sul de Santa Catarina, foram montados auditório e palco que recebeu os três governadores do Sul: Luiz Henrique da Silveira (SC), Germano Rigotto (RS) e Roberto Requião (PR), e dirigentes do PMDB. O coordenador do pré-programa de governo, o economista Carlos Lessa, deu uma palestra em que rapidamente falou sobre os 10 milhões de desempregados e as necessidades mais urgentes do País.

O sol forte aumentou a temperatura sob a lona ¿ principalmente depois do discurso de Garotinho, que marcou para hoje cirurgia para tirar um calo das cordas vocais. Com tanto calor, o governador Luiz Henrique protagonizou uma cena insólita: num canto do palco, tirou a camisa, enxugou o suor com uma toalha e vestiu uma camiseta do partido.