Título: Irmão de Lula é acusado de tráfico de influência
Autor: Denise Madueno, Rosa Costa, Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2005, Nacional, p. A9

Na internet, protestos contra assessora Genival, conhecido como Vavá, intermediaria contatos de empresários no governo; oposição quer levar caso para CPIs

Líderes de oposição no Senado querem que o Congresso apure o suposto tráfico de influência que estaria sendo praticado pelo irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Genival Inácio da Silva, conhecido por Vavá, presta serviços de intermediação de interesses de empresários junto ao governo federal desde o início do ano, de acordo com reportagem da revista Veja. Os líderes do PFL e PSDB, senadores José Agripino (RN) e Arthur Virgílio (AM), querem que uma das três comissões parlamentares de inquérito em funcionamento no Congresso apure se a iniciativa de Vavá favoreceu outras pessoas do governo ou o PT. A Assessoria de Imprensa do Planalto informou ontem que Lula "nunca teve conhecimento da existência de suposto escritório do qual seu irmão participasse". Na nota, a assessoria afirma que o Planalto sempre recomentou que os familiares do presidente fossem tratados como quaisquer cidadãos e nenhuma gestão feita pelo irmão do presidente junto aos órgãos do governo teve aceitação por parte dos funcionário procurados. "Qualquer pessoa que tenha ilusão de conseguir benefício do governo federal usando o nome do presidente não será bem-sucedida", diz a nota.

Os líderes oposicionistas admitem convocar o irmão de Lula para depor na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado sobre seu escritório de intermediação. "Estamos diante de um episódio a mais mostrando que o governo tem de acabar", alega o líder do PFL. Já Virgílio discorda da tese de que "Vavá é o irmão-problema de Lula". "Ao contrário, Lula é que é o irmão-problema de Vavá porque permite a promiscuidade entre o público e o privado", justifica.

"Lula é o irmão-problema, é o presidente-problema, é o companheiro-problema, o amigo-problema, o chefe-problema...é o homem-problema porque no seu governo tudo pode." Para o tucano, de tão intensas, as denúncias ligadas ao presidente moldam um novo tipo de democracia: "Na qual o presidente parece se esforçar para cair enquanto a oposição se esforça para mantê-lo no cargo".

De acordo com o líder do PFL, a "ousadia" de Vavá "foi estimulada" pela omissão do Planalto diante das denúncias feitas - no início do governo - contra o então chefe da Assessoria Parlamentar da Presidência, Waldomiro Diniz.

"Waldomiro e Buratti fizeram escola", afirmou, referindo-se também a Rogério Buratti, ex-assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na prefeitura de Ribeirão Preto, que chegou a ser preso como um dos cabeças do esquema de extorsão da coleta de lixo em prefeituras do PT.

De acordo com a reportagem da revista Veja, o trabalho de Vavá já teria rendido audiências da Federação Brasileira dos Hospitais com o assessor especial de Lula, César Alvarez, e de um empresário de construção com o diretor de Operações e Logística da Petrobrás Distribuidora (BR), Edimilson Antonio Dato Sant'Anna. Alvarez negou na reportagem ter conversado com os representantes da federação, mas Vavá confirmou o encontro.

Vavá diz que recebe e encaminha pedidos de empresários, admitiu ter solicitado as audiências e afirmou que viaja freqüentemente a Brasília com passagens pagas por empresários. "Se o presidente (Lula) tem empresários que procuram ele para fazer negócio, nada melhor do que você ajudar", afirmou. O irmão de Lula nega ter recebido dinheiro pelo trabalho: "Até agora ninguém pagou nada. Espero ganhar um dia".

DESAFOROS: Cristina Caçapava, assessora de Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão de Lula, foi alvo de desaforos virtuais depois da divulgação das acusações envolvendo seu chefe. Sua página no Orkut (www.orkut.com), site de relacionamentos, recebeu dezenas de recados condenando sua participação no suposto esquema de intermediação entre empresários e governo. Mensagens como "Você está famosa, hein" ou "Qual é seu preço?" lotaram o perfil de Cristina. Outro internauta escreveu: "A casa caiu...pena que esse caso vai ser como um outro qualquer em que muita coisa acontece mas ninguém vai preso...ninguém se ferra, só quem trabalha honestamente". Outro, referindo-se à secretária Fernanda Karina, pediu que ela, "por favor", não posasse nua. Houve até também quem pedisse ajuda para projetos pessoais. A página saiu do ar por volta do meio-dia de ontem. Moradora de Santo André, divorciada, mãe de 2 filhos, Cristina utilizaria o Orkut para engatar negócios entre a empresa de Vavá e fornecedores. Na lista de amigos constava o contato de Gisely Sant' Ana, secretária de Vavá.