Título: 17 produtos causam briga com Argentina
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

Entrada de geladeiras, calçados e outros itens brasileiros cresceu 434% em 2 anos

Um total de 17 produtos exportados pelo Brasil para a Argentina são considerados fonte de conflito pelo governo e o empresariado desse país. É o que afirma um relatório da consultoria Abeceb.com, principal analista de comércio exterior da Argentina. Segundo o relatório, entre os produtos que causam (ou causaram) rusgas no comércio bilateral estão geladeiras, calçados, tecidos de algodão, fios de acrílico, denim, máquinas de lavar roupa, suínos e papel. Segundo a Abeceb.com, a entrada desses produtos aumentou 434% entre 2002 e 2004. Enquanto o restante das mercadorias - ou seja, a maior parte das vendas brasileiras para a Argentina - registrou crescimento significativamente inferior, equivalente a 193,6%.

A entrada dos produtos "problemáticos" no mercado argentino estancou seu rápido crescimento, entrando em um platô. No ano passado, o governo do presidente Néstor Kirchner começou a aplicar uma série de drásticas medidas de restrição contra uma suposta "invasão" de produtos brasileiros.

As medidas abrangeram um amplo leque, incluindo tarifas alfandegárias extras e licenças não-automáticas. Além disso, forçaram os setores empresariais brasileiros a negociar com os empresários desse país e aceitar restrições "voluntárias" de suas vendas para o mercado argentino.

De acordo com a Abeceb.com, os setores em conflito representavam 7,5% das vendas brasileiras para a Argentina em 2001. Em 2004, a participação desses produtos havia caído para 4,3% do total das importações provenientes do Brasil.

Nesta semana, em Buenos Aires, continuariam as negociações entre o Brasil e a Argentina sobre a proposta do governo do presidente Néstor Kirchner de criar um mecanismo que impeça eventuais "invasões" de produtos de um integrante do Mercosul em outro país sócio. A proposta argentina denomina-se Cláusula de Adaptação Competitiva (CAC).

Analistas em Buenos Aires consideram que os dois governos poderiam chegar a um consenso sobre a CAC antes da próxima reunião do Mercosul, que será realizada em dezembro, em Montevidéu.

O espinhoso assunto ficaria de fora da agenda da reunião bilateral que ocorrerá no dia 30 de novembro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Kirchner, em Foz de Iguaçu, para celebrar o "dia da amizade Brasil-Argentina".