Título: Lula reúne ministros e busca saída para impasse
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2005, Nacional, p. A12

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva dedicou boa parte do dia de ontem a buscar uma solução para acabar com a greve de fome do bispo de Barra, Luiz Flávio Cappio, contra a transposição do Rio São Francisco. De manhã, Lula se reuniu com os ministros para tratar do assunto, entre eles o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, responsável pela execução da obra. Em entrevista no Itamaraty, indagado a respeito do estado de saúde do religioso, reagiu: "Pergunta para o bispo." A uma pergunta sobre a possibilidade de ir para Cabrobó (PE), onde Cappio faz o protesto, Lula sugeriu que a carta de seis páginas enviada ao religioso na semana passada foi suficiente. "Eu já mandei uma carta para ele", afirmou.

Alguns assessores palacianos avaliam que o gesto de enviar a carta serviu para envolver o presidente numa questão da qual seria melhor se manter distante, porque agora poderá ser responsabilizado caso a saúde do bispo se agrave.

Pouco antes da entrevista no Itamaraty, o presidente viveu situação de constrangimento ao receber no alto da rampa do Palácio do Planalto o presidente de Cabo Verde, Pedro Pires. Quando a Guarda Presidencial davam tiros de canhão, 35 representantes de entidades religiosas, ambientais e de direitos humanos promoviam, na Praça dos Três Poderes, ato em favor do bispo. Os manifestantes levaram potes de barro para água e uma imagem de São Francisco de Assis. "O presidente precisa entender: se acontecer uma tragédia, acabou o governo para o Nordeste", afirmou a irmã Delci Franzen, da Pastoral Social, ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Já o arcebispo da Paraíba, d. Aldo Pagotto, soltou nota ressaltando que a atitude de Cappio é "pessoal e isolada", sem consentimento da CNBB. Pagotto, antes de ir para João Pessoa, atuou na diocese de Sobral, reduto político de Ciro. "Os bispos do Nordeste são, em sua maioria, a favor da integração das bacias do São Francisco", ressalta a nota. "A Constituição e a democracia garantem a ele o direito de expressão. A mesma e única Constituição não lhe garante o direito de praticar espécie de eutanásia. Ninguém é senhor da própria vida."