Título: Até quando as commodities vão segurar a balança comercial?
Autor: SONIA RACY
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2005, Economia & Negócios, p. B2

Direto da fonte

A balança comercial continua batendo recordes sucessivos mesmo diante de um dólar fraco, como anunciou ontem o Ministério do Desenvolvimento. Qual o segredo? Este paradoxo, segundo o trader Roberto Giannetti da Fonseca, ocorre por conta de dois fatores: os conjunturais e os estruturais. E como estudos técnicos mostram que os fatores conjunturais explicam cerca de 2/3 do crescimento recente das exportações brasileiras, enquanto os fatores estruturais explicam o um terço restante, há muita dúvida sobre esse comportamento. "Tudo o que é conjuntural é efêmero e temporário", coloca, duvidando principalmente sobre o caminhar da China e dos EUA.

No seu ver, apesar do crescimento comercial mundial expressivo nos últimos 24 meses, essas duas grandes nações exibem fragilidades notórias em suas economias. A China tem apresentado um crescente desequilíbrio em sua matriz insumo-produto, revelando crescentes gargalos ao crescimento econômico por conta de sua deficiente infra-estrutura, especialmente a energética. Por outro lado, seu setor financeiro tem elevado nível de inadimplência em relação ao setor produtivo local, eventualmente superior a 30% de seus ativos bancários totais. "Um dia, mais cedo ou mais tarde, isto virá à tona." Enquanto nos EUA,os déficits gêmeos são reconhecidamente insustentáveis a médio e longo prazos.

Portanto, a tendência em 2006 e 2007, segundo Giannetti, será de baixa dos preços das commodities, o que trará uma nova fase de retração da economia mundial. E é o alto preço das commodities, justamente, o vento a favor que o Brasil aproveita hoje. Trata-se do principal fator conjuntural que impulsiona as exportações brasileiras. Entre os fatores estruturais, Giannetti cita a diversificação de mercados externos e da pauta exportadora, que vem se desenhando desde 2000, quando o ânimo exportador brasileiro revelou um novo e entusiasmado dinamismo. "A cultura exportadora disseminou-se pelo País e, desde então, a base exportadora brasileira quase dobrou", destaca. O coeficiente exportador do setor industrial brasileiro, por exemplo, em preços constantes, avançou de modestos 11,5% em 2000 para cerca de 17,5% no ano passado. "Mas isso não será suficiente para segurar a balança comercial", prevê o executivo.

soracy@estado.com.br

IMPRESSÃO DIGITAL

Para Cláudio Vaz, do Ciesp, o processo de negociação com os chineses e a publicação da regulamentação de salvaguardas contra a China não são excludentes e podem caminhar paralelamente. " Um não invalida o outro", disse ontem, lembrando que esse mecanismo decorre justamente do reconhecimento da China como uma economia de mercado. "Caso contrário, o Brasil já poderia ter adotado medidas unilaterais sem passar por negociação."

Vaz, que conversou com o ministro Luiz Furlan ontem, tem convicção de que o governo vai publicar a regulamentação para que a indústria apresente seu pedido de salvaguardas, provando danos causados por importações legais da China.

BR NA FRENTE Estado de direito

Parte do mercado de resseguros não gostou do fato de o IRB permitir que corretoras sob investigação participem da disputa pelo maior contrato de resseguros do Brasil. Entre as 14 que passaram na primeira fase, estão a Cooper Gay e a Alexander Forbes que figuram no dossiê enviado pelo IRB ao Ministério Público.

Indagado ontem sobre o fato, Marcos Lisboa, do IRB, deixa claro que enquanto o Judiciário não concluir a investigação sobre operações específicas, nenhuma restrição pode ser imposta às empresas sob pena de responsabilização do IRB. "O processo foi aberto a todas as corretoras que manifestaram interesse. Instituímos um método de pontuação técnica por critérios quantitativos completamente transparente."

O resultado final sai dentro de um mês.

Global

O Instituto de Desenvolvimento Gerencial, capitaneado por Vicente Falconi, já tem mais de 25% de sua receita total originada no exterior.

São mais de 140 consultores alocados em 33 clientes em países como Argentina, Uruguai, Colômbia, EUA, Canadá, Luxemburgo, Hungria e Espanha.

Boa notícia

A CNI divulga hoje pela primeira vez o detalhamento feito pelo Sesi em cima dos dados do Rais, recolhido pelo governo. Entre outras, constatou-se um aumento de 9% do número de trabalhadores em geral com carteira assinada em 2003, na comparação com 2001.

Na indústria, esse crescimento foi de 5%.

Novo investimento

A Itambé está investindo R$ 59 milhões em fábrica de latas metálicas e linha de produção de óleo de manteiga em Uberlândia (MG).

Desse total, R$ 22,5 milhões vêm, do BNDES.

Dedão

Ontem, o mercado teve a impressão de que a compra de dólares pelo BC fez parte apenas do programa de fortalecimento das reservas.

A confirmação dessa digital deverá vir amanhã, quando o BC divulgar os dados do fluxo e da posição cambial dos bancos em setembro.