Título: Crise expõe briga por verbas entre ministros
Autor: Adriana Fernandes, Fabio Graner, Vera Rosa, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Economia & Negócios, p. B3

Rumores de demissão de Rodrigues, da Agricultura, aumentaram, mas problema maior é com a Fazenda, comandada por Palocci

Os rumores da demissão do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, aumentaram na semana passada. Ele já vinha se queixando de frustração e cansaço antes da crise da aftosa. Surgido o foco, Rodrigues se envolveu numa batalha de bastidores com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a quem acusa de haver bloqueado as verbas para sua pasta. Foi bombardeado com números mostrando que havia dinheiro disponível, mas este foi mal gasto. Com isso, aumentaram as versões de que o ministro da Agricultura estaria desgastado no governo.

Um interlocutor direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porém, garante que o problema de Rodrigues no governo é só com Palocci. Lula, diz essa fonte, gosta muito de seu ministro da Agricultura e o considera competente, por isso não quer que ele saia. Auxiliares de Palocci, por sua vez, confirmaram que o ministro ficou irritado com Rodrigues, pois essa não foi a primeira vez que se bateram por causa de verbas. O ministro da Agricultura, em entrevista recente, também havia criticado as políticas de câmbio e de juros do governo.

Assessores de Rodrigues contam que o ministro se sente 'sufocado' com a situação. De um lado, enfrenta resistências da área econômica. De outro, a bancada ruralista intensifica a cobrança por mais recursos e acha que o ministro teria perdido força após a saída do governo do ex-ministro José Dirceu.

Este não foi o único embate de Palocci na semana, que causou também a irritação de outro ministro afinado com o setor produtivo: Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento.

Seus auxiliares não hesitam em atacar a Fazenda pela manobra que impediu a 'MP do Bem' de ser votada na terça-feira, derrubando a última chance de aprovação.

Cálculos da Receita mostram que a conta das medidas, inicialmente estimada em R$ 3,3 bilhões, havia chegado perto dos R$ 12 bilhões. Por isso, a opção foi inviabilizar a votação da MP. A bancada governista se retirou do plenário, derrubando o quórum e impedindo a votação.

O pretexto para a manobra foi um dispositivo, incluído na MP já no Congresso a pedido da área econômica, que permitia adiar para o ano seguinte parte do pagamento de pequenas sentenças perdidas pela União.

A oposição tentou derrubar o artigo, afirmando que ele prejudicaria os aposentados que ganham na Justiça a revisão de seus benefícios. O governo não recuou e provocou impasse que justificou toda a manobra. Furlan se disse 'decepcionado' pela queda da MP. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota lamentando que, ao prometer incentivos ao setor produtivo e depois derrubá-los, o governo tenha criado um ambiente inseguro aos planos de investimento.