Título: Japão aprova privatização do correio
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Internacional, p. A33

O Parlamento japonês aprovou ontem a privatização do serviço postal do país, numa vitória crucial para os programas de reforma do primeiro-ministro Junichiro Koizumi. O projeto foi aprovado pelo Senado por 134 votos a favor e 100 contra. Na terça-feira, o plano de privatização já havia passado pela Câmara Baixa. A nova lei prevê a separação dos vários serviços oferecidos pelo correio japonês, que além de entregas postais administra o equivalente a quase US$ 3 trilhões em depósitos de caderneta de poupança e prestação de serviços de seguros - o que o torna uma das maiores instituições financeiras do mundo. A privatização se dará de forma gradual. Os serviços serão separados em quatro entidades, sob o controle de uma holding, até 2007. A holding venderá ações dos negócios bancários e de seguros até a privatização total, em 2017.

A rejeição da reforma no Senado em 8 de agosto levou Koizumi a dissolver a Câmara Baixa e convocar as eleições de 11 de setembro, vencidas pelo seu Partido Liberal-Democrata (PLD) por grande maioria. A vitória eleitoral permitiu ao primeiro-ministro livrar-se de membros do próprio partido que se opuseram à reforma na votação de agosto.

Deputados e senadores que se opunham ao projeto e não deixaram o PLD após a convocação das eleições mudaram de posição e manifestaram pleno apoio a Koizumi. O primeiro-ministro tem indicado que sua intenção é utilizar a privatização do serviço postal como um passo para impulsionar uma reforma mais ampla da administração.

Para ele, é necessário pôr o maciço volume de depósitos à disposição dos investidores privados. Os fundos têm sido usados ao longo dos anos por partidos no governo para dispendiosos (mas politicamente úteis) projetos públicos.

"Este é um milagre do mundo político", dizia ontem um sorridente Koizumi, logo após a votação do Senado. "O público que apoiou Koizumi deixou esse milagre acontecer", completou.

O chefe de gabinete do governo, Hiroyiki Hosoda, disse que o apoio popular ao programa de privatização emite uma clara mensagem sobre a viabilidade de outros projetos de reforma. "A idéia de que algumas coisas não sejam possíveis por causa da oposição de alguns interesses agora deixou de ser verdadeira", disse. Alguns analistas dizem que, com o triunfo de ontem, Koizumi ganha força para adotar mudanças no sistema de bem-estar social, entre outras reformas.

Os opositores do plano de privatização argumentam que a entrega dos correios para a iniciativa privada vai reduzir os serviços para as áreas rurais mais remotas do país.

Os sindicatos de trabalhadores também estão preocupados com a possibilidade de demissões entre os mais de 400 mil trabalhadores do sistema. Outra preocupação é que os enormes conglomerados bancários e de seguros que serão criados a partir da venda dos serviços do correio poderiam tirar companhias menores do mercado.