Título: 'Denúncias serão esquecidas e vão virar piada de salão'
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2005, Nacional, p. A6

Em conversa exclusiva com o "Estado", ex-tesoureiro do PT revela que trabalhou para eleger Berzoini presidente do partido

BURITI ALEGRE - Afastado das badalações do poder, dos eventos partidários e das páginas dos jornais, o ex-tesoureiro nacional do PT, Delúbio Soares, em conversa exclusiva com o Estado, no último sábado, reavaliou a crise da qual é personagem-chave e revelou que não só trabalhou para eleger Ricardo Berzoini, como ficou muito feliz com sua eleição à presidência do PT, a despeito de o novo presidente defender a sua expulsão do partido. Ele acha que as denúncias que o atingiram e ao PT "serão esclarecidas, esquecidas e acabarão virando piada de salão". À vontade na fazenda do pai, em Buriti Alegre, interior de Goiás, onde passou o fim de semana para comemorar, com amigos e familiares, seu aniversário de 50 anos, Delúbio falou pela primeira vez de sua provável expulsão do PT. Afirmou que aceitará a pena, mas que, ainda assim, continuará sendo um militante simbólico da legenda que deverá expurgá-lo.

"Eu não vou deixar de ser militante do PT. O PT não é um partido, é meu projeto de vida. Sou fundador, dirigente nacional e militante há 25 anos", protestou. Delúbio afirmou que elegeu o tempo como aliado. "O tempo é o melhor remédio. Não é hora de falar, e sim de esperar o tempo passar e aí ficará provado que eu não errei", previu.

BOM PARA O PT

Na Fazenda Catonha, que pertence ao pai, Antônio Soares, ele confidenciou que ficou feliz com a vitória de Ricardo Berzoini no PT. "Eu pedi votos para ele. Foi bom para o partido. Agora, no próximo sábado, eu apresento minha defesa. Se eu for expulso, fui. Não vou ficar com raiva de ninguém", prometeu.

Ao falar da crise política do governo, Delúbio considera que a crise política está perdendo força e repete a desculpa já usada pelo presidente Lula: "O PT não usou dinheiro público, como fizeram os outros partidos, quando estavam no governo. Nós fizemos diferente do PFL e do PSDB. Usamos dinheiro de empréstimos privados de um empresário para fazer pagamentos de campanha e deu a confusão que deu", repetiu.

Negou a existência do mensalão e rechaçou a coincidência entre os saques de feitos das contas do empresário Marcos Valério e votações importantes para o governo. "Mensalão? Nunca existiu, e com o tempo isso ficará provado. Onde já se viu mensalão para o Professor Luizinho (do PT de São Paulo e ex-líder do governo Lula na Câmara) ou para Duda Mendonça (publicitário que fez a campanha de Lula)? Isso não existe."

O ex-tesoureiro petista só demonstra alguma emoção quando fala da mídia, de quem se considera a vítima numero 1: "A mídia diminuiu a voracidade, mas disse muitas coisas de mim que não eram verdadeiras. Falou até que tinha conta no exterior. Eu resolvi não responder mais. Não adianta", disse.

Quanto ao PT, Delúbio parece admitir que sua expulsão é inevitável, mas acredita que o revés será passageiro. "Nós seremos vitoriosos, não só na Justiça, mas no processo político. É só ter calma. Em três ou quatro anos, tudo será esclarecido e esquecido, e acabará virando piada de salão", apostou.