Título: Exportação de carne deve cair 30%
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

As exportações de carne bovina deverão cair 30% em valor este mês em razão do surgimento do foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul, avalia o ex-ministro da Agricultura Marcus Vinicius Pratini de Moraes, que preside a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). "Certamente, em outubro haverá redução." Pratini de Moraes participa hoje, em Moscou, das negociações visando a pôr fim ao embargo russo ao produto. Mas, para ele, mais difícil será negociar com a União Européia (UE), "Com a União Européia, o assunto é político", disse, explicando que a doença vem sendo utilizada de pretexto para medidas protecionistas. A seguir, os principais pontos da entrevista ao Estado: Os exportadores esperam prejuízo imediato nas exportações de carne bovina?

Para mercados que podem ser recuperados depois, vamos ter redução de embarques. Por enquanto, é difícil precisar o tamanho da perda porque não temos informações sobre todos os compradores. Certamente, em outubro haverá redução. O embarque mensal de carne bovina rende, em média, US$ 250 milhões. É possível que haja redução, no início, de 30% ou um pouco mais.

Será possível reverter o quadro?

Claro que sim. Em 30 ou 60 dias, as vendas podem ser restauradas. O importante, para evitar um impacto maior, é prestar todas as informações sobre as providências adotadas. As providências foram eficazes no sentido de conter o foco de Eldorado e rapidamente os embargos podem ser resolvidos.

O governo brasileiro está preparado para a ofensiva?

O Ministério da Agricultura tem técnicas adequadas para debelar os focos. A doença já foi detectada no passado, inclusive em Mato Grosso do Sul. Os técnicos sabem o que fazer. Uma vez contido o foco, num período de dois ou três meses, ele pode ser eliminado.

O sr. sabe o destino dos carregamentos que estão nos portos? E os contratos fechados antes da descoberta do foco?

Cada país dá um tratamento diferente ao assunto. Normalmente, os países que bloqueiam costumam estabelecer que os animais abatidos até antes do surgimento do foco podem ser exportados. Isso pode fazer, inclusive, que a queda no faturamento com as exportações seja menor.

O sr. está em Moscou para ajudar na negociação que tem o objetivo de retomar o comércio de carnes com a Rússia. Essa é a negociação mais difícil?

Não. Mais difícil será com a União Européia, que suspendeu as compras de Mato Grosso de Sul, de São Paulo e do Paraná. Acho que a decisão da União Européia não é tão técnica, pois não concordo com o fechamento de São Paulo. Essa posição não tem justificativa técnica, é uma medida política, que envolve negociação política. É pressão dos produtores locais. A carne brasileira é vendida em 156 mercados e o Brasil é o maior fornecedor da Europa. Alguns produtores locais estão sentindo a competição.

A estimativa de exportação para o ano será revista?

Recentemente, a previsão era de exportação de US$ 3 bilhões. Nos últimos 12 meses, de outubro de 2004 a setembro de 2005, exportamos US$ 3,15 bilhões. Isso vai cair, mas ainda não posso dizer quando e por quanto tempo. Tudo dependerá da prestação das informações e das negociações feitas pelos organismos sanitários do Brasil com os dos demais países.