Título: Ômega de Delúbio foi comprado por R$ 67 mil, à vista
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2005, Nacional, p. A11

Os gastos com advogados e a crise política que o derrubou do cargo de tesoureiro do PT e o transformou em um incômodo para o Palácio do Planalto não foram suficientes para esvaziar o saldo bancário de Delúbio Soares. Há 20 dias, ele adquiriu em São Paulo um Ômega australiano blindado. Pagou R$ 67 mil à vista pelo importado, de cor prata, placas DDS-2277. O veículo é ano de fabricação 2000, está com 70 mil quilômetros rodados. Sábado, quando Delúbio comemorou seu aniversário de 50 anos com amigos e familiares na fazenda do pai, em Buriti Alegre, interior de Goiás, comida típica, seguranças e o Ômega se destacavam na paisagem.

O suposto operador do mensalão comprou, mas ainda não transferiu a propriedade do carro para o seu nome, ou seja, não incorporou o bem ao seu patrimônio pessoal. Do cadastro do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) consta que o Ômega está em uso pelo antigo vendedor de uma concessionária de carros japoneses em regime de leasing do banco Itaú.

O negócio foi feito sem que o ex-tesoureiro desse as caras. No lugar dele, um emissário - que se apresentou como "motorista" de Delúbio - foi à loja, no bairro de Santana, zona norte de São Paulo, demonstrou muito interesse pelo blindado e consultou o preço.

"Ele (Delúbio Soares) nunca apareceu aqui", afirmou um dos sócios da loja, especializada em veículos importados e blindados. "Veio o motorista dele, entregou o cheque e, 3 dias depois, retirou o Ômega."

Segundo o empresário, o carro que Delúbio levou foi plenamente quitado junto ao banco, antes de ser colocado à venda. Ele próprio utilizou o Ômega por algum tempo. Ao final do contrato, o banco calculou a diferença relativa à depreciação e o valor foi depositado. "Não tem rolo, estou tranqüilo."

O empresário informou que emitiu nota fiscal em nome do ex-homem-forte do PT. "O que vale é a parte jurídica, eu não quero complicação para o meu lado", disse. "Ele (Delúbio) pagou em cheque, com certeza não era cheque do Banco Rural. Sei que o carro era para ele mesmo por causa do nome."

"O dinheiro é do Delúbio, saiu da conta corrente dele", declarou o advogado Paulo Vianna, amigo do ex-tesoureiro. "É tudo transparente, não tem nada escondido nessa transação." O advogado destacou que Delúbio já declarou "inúmeras vezes" às autoridades seu saldo bancário. À Polícia Federal, em agosto, Delúbio disse que seu patrimônio se resumia a uma conta com R$ 168 mil. "Foi uma operação comercial absolutamente normal", reiterou o advogado.

Delúbio resolveu comprar o blindado atendendo a um pedido da família, preocupada com a segurança. "Ele andava com o carro do PT, mas tiraram dele", anotou Vianna. O advogado informou que, depois de comprar o Ômega, Delúbio vendeu o Toyota Corolla ano 2005, por R$ 60 mil, em Goiânia.

O advogado rebateu especulações sobre enriquecimento ilícito de Delúbio. "Em se tratando de Delúbio tudo é notícia. Ele pauta sua vida pela legalidade."