Título: PT confunde ética com bandalheira, acusa Serra
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2005, Nacional, p. A8

Embaraçados pelas novas denúncias sobre a participação do empresário Marcos Valério de Souza no financiamento da campanha do presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), em 1998, alguns dos principais líderes tucanos, em ato público pela ética na política organizado pela Fundação Mário Covas, reagiram ontem à ofensiva do PT. Num discurso recheado de ataques ao governo Lula e ao PT, o prefeito de São Paulo, José Serra, acusou os petistas de tentar arrastar os tucanos para a ¿confusão¿ para criar a idéia de que só copiaram as práticas de financiamento ilegal adotadas por outros partidos. ¿Não somos iguais coisa nenhuma.

Rejeito o parentesco e a semelhança. O PSDB não aparelhou o Estado. O PSDB não promoveu uma rede de corrupção nas estatais. O PSDB nunca confundiu Estado, partido e governo. O PSDB não converteu a prática de caixa 2 num sistema, tampouco recorreu ao dinheiro público para criar uma malha de cooptação no Congresso¿, disse Serra, lendo discurso.

Referindo-se ao escritor inglês George Orwell, autor do clássico 1984, romance sobre um Estado absolutista que controla os seus cidadãos, o prefeito disse, sem citar diretamente os adversários, que os petistas pretendem ¿redigir o seu próprio manual de ética, segundo o duplipensar orwelliano, em que liberdade é escravidão e ética é bandalheira¿.

¿Há aqueles que pretendem ter licença especial para ser aéticos na suposição de que outros já foram antes. Não querem generalizar o bem; preferem pedir licença para generalizar o mal¿, acusou. Numa afirmação que pode ser entendida como uma crítica ao Bolsa Família, principal programa social do governo Lula, Serra disse que, ¿quem torna o povo cativo da falsa caridade, transformando recursos públicos em demagogia eleitoreira, não é ético¿.

Outro ataque ao governo Lula foi no atendimento às populações ribeirinhas da Amazônia atingidas pela seca. ¿Um conjunto de fatores climáticos deixou seca a maltratada Amazônia. Mas foi a imperícia que levou fome à população ribeirinha. Foi a insensatez que fez com que os recursos não chegassem a tempo¿, disse.

¿Os jornais todos noticiaram que a eleição do presidente da Câmara exigiu, em liberação de recursos do Orçamento, R$ 1,5 bilhão. Para a seca na Amazônia, foram R$ 30 milhões.¿

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também presente e, como Serra, pré-candidato à Presidência, bateu na sua tecla preferida ¿ a eficiência da gestão ¿ para atacar o governo. ¿O governo, para ser ético, precisa ser eficiente¿, disse. ¿A confusão entre o público e o privado, o partido e o governo perpassou e contaminou toda a administração pública.¿

Em entrevista, o governador tentou defender Eduardo Azeredo nas denúncias sobre seu envolvimento com o ¿valerioduto¿ na campanha de 1998. ¿Ele já se explicou na CPI e, se precisar, se explicará de novo¿, disse.

Ele rejeitou também comparações entre o caso do presidente do PSDB e o de Delúbio Soares, ex-tesoureiro expulso pelo PT. ¿Cada homem tem a sua história. O Eduardo Azeredo é um homem honesto.¿

Apesar de a presença maciça ter sido de tucanos, a Fundação Mário Covas quis dar uma cor suprapartidária ao ato de ontem e convidou personalidades da sociedade. Representando a OAB, esteve presente o advogado Ricardo Tosto, que defende o ex-prefeito Paulo Maluf.