Título: Cerco ao PCB começa com ataque a gráficas
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2005, Nacional, p. A14

A grande repressão contra o PCB começou em 13 de janeiro de 1975, quando foram estouradas duas gráficas clandestinas do partido. Ambas tinham sido instaladas em compartimentos simulados de casas de subúrbio - em Campo Grande, no Rio; e na Casa Verde, em São Paulo. A fala do ministro Falcão na TV acuou o MDB, o que se repetiria em todos os outros episódios. Até abril, foram três inquéritos: o das gráficas, o da infiltração nos sindicatos e do chamado setor judeu e o que apurou a remessa de dinheiro do exterior para o Partidão. No primeiro semestre de 1975, quatro dirigentes nacionais do PCB desapareceram. Preso o ex-deputado Marco Antônio Tavares Coelho, seu interrogatório se centrou na influência do partido nas eleições de 1974. Ele ouviu uma recomendação passada aos torturadores: "De ordem da presidência da República, deve ser feito um minucioso interrogatório sobre as ligações do PCB com o MDB, principalmente em função das eleições do ano passado".

USO ABUSIVO

Sob tortura, Marco Antonio mencionou os nomes de militantes eleitos pelo MDB - com destaque para os paulistas Alberto Goldman e Marcelo Gatto, deputados federais, e o estadual Nelson Fabiano. Em junho de 1975, na Justiça Militar, negou as menções, mas o regime faria uso abusivo delas.

Em julho, houve 33 prisões na Bahia, entre elas o militante Carlos Augusto Marighella Filho, e mais 50 em Brasília. Em setembro, dezenas de prisões no Paraná. Em dezembro, 38 presos em Santa Catarina. No início de julho, a escalada desbaratou o chamado "setor-mil", a base do PCB na Polícia Militar de São Paulo. Dos 68 presos, dois morreram sob torturas, o coronel José Maximiano de Andrade Neto e o tenente José Ferreira de Almeida, que teria "se suicidado", igualzinho fariam, a acreditar no que diziam os torturadores, o vendedor Pedro Jerônimo de Souza, preso em Fortaleza, no dia 17 de setembro, e o jornalista Vladimir Herzog, no dia 25 de outubro.