Título: Roche concederá licença de produção de antiviral
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2005, Vida&, p. A18

Empresas e governos poderão fabricar Tamiflu, mas processo é bastante complexo

A Roche cedeu às pressões internacionais e anunciou ontem que está disposta a conceder sublicenças para a fabricação do Tamiflu, o antiviral recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para combater uma possível epidemia de gripe aviária entre humanos. Assim, qualquer empresa ou governo que quiser produzir o remédio - e estiver de acordo com as especificações de qualidade e segurança impostas pela Roche - poderá fazê-lo. Cinco empresas americanas já demonstraram interesse. O senador democrata Charles Schumer foi porta-voz das empresas, afirmando que elas têm condições de começar a fabricação em um mês.

Segundo o diretor da Divisão de Medicamentos de Prescrição Médica da Roche no Brasil, João Carlos Ferreira, já existem várias empresas que operam junto com a Roche na produção do Tamiflu. Essa rede conta com 12 pontos de fabricação no mundo, mais da metade terceirizada. Isso ocorre porque o ciclo produtivo do medicamento é extenso e complexo. "Nenhuma empresa apresenta uma linha de produção para todas as etapas do produto. Elas passam de uma fábrica para outra", diz. Mesmo com a sublicença, nenhuma empresa seria capaz de produzir o medicamento do começo ao fim.

Até agora uma única empresa, a indiana Cipla Ltd, mostrou interesse em produzir uma versão genérica do Tamiflu. De acordo com o executivo da Roche David Reddy, a Cipla não procurou o laboratório. "Estamos dispostos a conversar", disse Reddy.

Para se ter uma idéia, o remédio que está saindo da fábrica hoje começou a ser produzido em novembro de 2004. Por causa desse longo tempo processo, desde 2003 a Roche procura por conta própria empresas que ajudem a aumentar a produção. O laboratório acredita que até 2006 ela será dez vezes maior. "O que a Roche tem disponibilizado são estoques preventivos, para dar conta de uma possível pandemia", explica Ferreira.

Ele confirma que a demanda no Brasil aumentou cinco vezes, mas garante que todos os pedidos estão sendo entregues no prazo e que há estoque.

O consumo do Tamiflu sempre foi muito pequeno no País, cerca de 4 mil caixas/ano. Tanto que muitas das grandes redes de farmácias nem trabalham com o produto. "Já é normal você não encontrar Tamiflu na primeira, na segunda e até na quinta farmácia", diz Ferreira. Nem por isso é preciso correr para procurá-lo. "O Tamiflu não imuniza ninguém. Não há razão para estocar o medicamento, não adianta tomá-lo aleatoriamente", afirma.

O Estado procurou cinco das grandes redes de farmácia de São Paulo. Das três que forneceram informações, só uma comercializa o Tamiflu. A Drogasil disse que não tem mais o produto em estoque, mas que já fez o pedido.

Ontem, o site de leilões eBay suspendeu a venda do antiviral, depois que uma caixa com dez comprimidos alcançou o valor de 152 (o normal seriam 40).

Lançado em 1999, o Tamiflu teve eficácia comprovada contra o vírus da gripe comum. Mas não há testes contra a gripe aviária.