Título: Produtor rural espera recuperação em 2006
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

O ano de 2006 ainda será de ajuste para os produtores de grãos que estão decididos a reduzir a área plantada, segundo o primeiro levantamento feito pela Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) para a safra 2005/2006. Mas, de acordo com consultorias especializadas e entidades do setor, a pior fase já passou. "O pior ano foi a safra 2004/2005, que foi do susto, quando os insumos foram comprados com o dólar em R$ 3,30 e os produtos vendidos pela taxa de R$ 2,30. Agora, os agricultores estão mais preparados para a crise", diz o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas. A entidade reúne 7,3 mil cooperativas, das quais 1,4 mil agropecuárias.

Isso não significa que o setor voltará à normalidade, mas, na análise do sócio da MSConsult Fábio Silveira, se o clima não atrapalhar, como neste ano, os produtores de grãos terão um aumento de rentabilidade e de receita proveniente do crescimento dos volumes e melhores condições para negociar a colheita em relação à safra 2004/2205. "O mal maior atingiu o setor em 2005."

Essa avaliação é compartilhada pela economista da Tendências Consultoria Integrada, Amaryllis Romano. Segundo ela, apesar da redução da área plantada, a expectativa é favorável em termos de renda e rentabilidade. "Acreditamos que não vai se repetir o cenário desastroso da safra 2004/2005, plantada a custos muito elevados e vendida a preços baixos e com o real valorizado em relação ao dólar."

Apesar da esperada recuperação da produção, ambas as consultorias não acreditam que o volume atingirá a marca de 130 mil toneladas na safra que está sendo plantada. Silveira, da MSConsult, estima uma produção de grãos de 118 milhões de toneladas na safra 2005/2006 e prevê que a produção de 130 milhões venha a ser alcançada depois de 2007.

"Dificilmente teremos uma safra de 120 milhões de toneladas", diz Freitas, da OCB. Estimativas da Conab apontam uma produção de 124,9 milhões de toneladas de grãos na melhor das hipóteses nesta safra. Um ponto preocupante, lembrado por Freitas e endossado por Silveira, é a redução no uso de insumos básicos, como fertilizantes e defensivos agrícolas para a próxima safra.

"Andei pelo País e constatei que o produtor está desanimado. No sudoeste goiano, por exemplo, os agricultores estão usando 60% do volume de fertilizante e, em alguns casos, plantam sem adubo", conta o presidente da OCB. Ele diz que o corte nos insumos ocorre até mesmo em culturas perenes, como café, cujo preço hoje está em alta. Além do fraco desempenho da safra passada no caso dos grãos, Freitas atribui essa reação dos produtores à insegurança política, especialmente porque 2006 é um ano eleitoral. "Ninguém quer correr risco."

A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) alerta que que o levantamento da Conab que aponta redução da área plantada e aumento da produção da safra 2005/2006 não é uma análise isenta. A entidade argumenta que a comparação foi feita com a safra passada, que foi afetada pela estiagem que afetou a produção.

Levando-se em conta a produtividade média dos últimos cinco anos, a CNA calcula que os agricultores terão queda no faturamento de R$ 4,1 bilhões na próxima safra de grãos.