Título: Buratti diz que Palocci sabia de tudo
Autor: Rosa Costa e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2005, Nacional, p. A8

O advogado Rogério Buratti reafirmou ontem, em depoimento à CPI dos Bingos, informações sobre a suposta doação de US$ 3 milhões de Cuba para a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Ele disse ter sido consultado em maio ou junho daquele ano por Ralf Barquete, secretário de Fazenda do então prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Palocci, sobre o melhor "mecanismo" para entrar com recursos no Brasil. "Ele disse que fazia a pergunta a pedido do Palocci", relatou Buratti. "Respondi que era por meio de doleiros. Na ocasião, eu não sabia que o dinheiro sairia de Cuba." Barquete morreu de câncer em junho de 2004. Seu nome aparece em todas as denúncias relacionadas a Palocci, como a da cobrança do mensalinho da empresa Leão Leão - via prefeitura de Ribeirão Preto, para abastecer o caixa 2 do PT - e no caso de suposta extorsão da multinacional Gtech. Buratti repetiu três vezes que Barquete era muito próximo de Palocci.

O depoente disse à CPI que só em setembro, por intermédio do próprio Barquete, ficou sabendo que o dinheiro tinha entrado no País. "Entendi que o aporte serviria para a campanha do presidente Lula", argumentou.

Ele disse ter sabido pela imprensa que Palocci tinha negado os fatos: "Li que o ministro desmente. Li e compreendo." Ele disse não ter como avaliar se Lula, ainda candidato, tinha conhecimento da operação.

AVIÃO

A pedido do senador Demóstenes Torres (PFL-GO), Buratti confirmou que o empresário Roberto Colnaghi, dono do avião Sêneca que teria transportado os dólares de Cuba, freqüentava uma casa alugada pelo economista Vladimir Poletto, também ex-assessor de Palocci, no Lago Sul de Brasília. "Eu o vi duas ou três vezes lá", disse.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) ponderou que o procedimento de entrada da doação no País colocava dúvidas sobre a sua veracidade. Buratti disse que não poderia testemunhar: "Não vi a operação, não participei, não disse que era de Cuba, vindo de Cuba. Pode ter sido ou não. Apenas relatei fatos que me foram contados, porque não quero que atribuam a mim coisas que eu não fiz."

Buratti disse ter ouvido Poletto - que declarou à Veja ter transportado os dólares de Brasília a São Paulo - relatar os problemas que enfrentou por causa do mau tempo durante o vôo. "Vladimir disse que transportou três caixas. Ele não me disse que era dinheiro, achava que era qualquer outra coisa. Bebida, por exemplo", disse.

DE NOVO

É a quarta vez que Buratti depõe na CPI dos Bingos. Na primeira vez, tentou tumultuar as investigações, negando tudo o que lhe era perguntado. Na segunda, já na condição de favorecido pela delação premiada, apresentou uma série de dados sobre a corrupção na prefeitura de Ribeirão Preto durante a gestão Palocci.

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) elogiou a colaboração que Buratti tem dado à comissão. O advogado disse que dava os rumos, cabendo à CPI e ao Ministério Público obter os documentos que comprovam as suas palavras, mesmo tendo ele atuado "do outro lado", ou seja, na empresa que favorecia o caixa 2 do PT.