Título: Aftosa empurra IPCA para 0,75%
Autor: Alessandra Saraiva e Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2005, Economia & Negócios, p. B4

A crise da febre aftosa chegou à inflação oficial e, junto com os combustíveis, elevou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 0,75% em outubro, mais do que o dobro do 0,35% de setembro. O grupo de Transportes contribuiu com 65% da taxa, com os reajustes na gasolina, álcool, ônibus urbanos e passagens aéreas. Mas a carne foi a segunda maior contribuição individual (0,11 ponto porcentual), atrás apenas da gasolina (0,18 ponto porcentual). O índice, divulgado ontem pelo IBGE, ficou acima do esperado pelo mercado financeiro, que projetava cerca de 0,60%. O IPCA é referência para a meta de inflação do governo, cujo centro é de 5,1% em 2005. Até outubro, a taxa acumulou alta de 4,73%; em 12 meses, de 6,36%.

A gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, disse serem pontuais as pressões sobre o IPCA de outubro. "São pressões que não se repetem, como combustíveis e passagens aéreas." Para o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-RJ, "nos próximos seis meses, a trajetória da inflação será tranqüila".

Prova disso, diz Eulina, é que a alta dos produtos alimentícios (0,27%) ficou concentrada em carne e frango e houve estabilidade ou queda em vários outros itens. "A alta não significa que houve aumento generalizado dos alimentos."

Os dados da inflação no atacado divulgados ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), cuja coleta de preços foi realizada depois da do IPCA, já mostraram recuo nos preços da carne. Em outubro, segundo Eulina, o reajuste de 4,2% na carne não respondeu a problemas objetivos de oferta, mas provavelmente a um "alarme" dos produtores por causa da aftosa.

Segundo ela, a entressafra da carne costuma afetar os preços do produto em outubro, mas o reajuste deste ano foi muito maior do que no ano passado. Em outubro de 2004, o preço da carne havia aumentado 1,01%. "Só com um segundo resultado da inflação da carne será possível confirmar esse efeito da aftosa, mas já há indícios", disse.

Ela observou que a aftosa também parece ter pressionado os preços do frango (3,9%), "a reboque" da alta da carne, por causa do crescimento da demanda pelo produto alternativamente à carne vermelha. Para Cunha, o comportamento dos preços da carne é o lado mais imprevisível da inflação no momento, mas não deverá impedir que o IPCA desacelere novamente em novembro, para uma taxa em torno de 0,50%.

ALIMENTOS

O grupo dos produtos alimentícios, que vinha registrando queda nos preços há quatro meses, reverteu a curva e voltou a aumentar em outubro (0,27%), pressionado especialmente pelas carnes. Eulina sublinhou que muitos alimentos ainda mostraram preços em queda ou estáveis, o que garante que não houve "alta generalizada".

Além disso, prosseguiu a forte pressão dos combustíveis no mês, com reajuste na gasolina (4,17%), ainda refletindo o aumento nas refinarias em setembro e no álcool (10,48%), nesse caso por causa da entressafra na cana-de-açúcar.

Além desses produtos, o grupo Transportes (2,21%), com forte peso no IPCA, sofreu impacto também de itens como ônibus urbanos (1,10%), passagens aéreas (11,06%), conserto de automóvel (1,55%) e automóveis usados (1,12%).

EXPECTATIVA: A primeira prévia de novembro do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) apresentou queda em relação ao mesmo período de outubro, de 0,25% para 0,16%. A redução nos preços dos combustíveis, no atacado e no varejo, levou ao recuo, segundo informou ontem a Fundação Getúlio Vargas (FGV). O resultado reforçou a expectativa de o IGP-M fechar o mês abaixo do índice de outubro, de 0,60%.

No atacado, os preços dos combustíveis e lubrificantes passaram de 3,84% para 0,62% da primeira prévia de outubro para igual período de novembro (período de 21 a 30 de outubro). Isso fez com que os preços no atacado subissem apenas 0,13%, menos da metade da inflação do setor na primeira prévia de outubro (0,25%).

O comportamento dos preços dos combustíveis conteve o avanço dos preços da carne bovina no atacado (de 0,19% para 5,16%). "Há um arrefecimento no ritmo de alta nos preços das carnes em algumas regiões produtoras", explicou o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. No varejo, também houve recuo, mas menos intenso: de 0,29% para 0,22%.