Título: Presidente comandou operação no Planalto até meia-noite
Autor: João Domingos e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2005, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva permaneceu no Palácio do Planalto até pouco antes da meia-noite de quinta-feira só para comandar a ofensiva pela retirada de assinaturas do requerimento de prorrogação da CPI dos Correios. Lula - que dormiu satisfeito com o trabalho de sua equipe e ainda na manhã de ontem chegou ao Planalto comemorando - perdeu a fleuma ao ser informado que uma decisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), poderia tirar a vitória do governo e ser o ingrediente que faltava para prorrogar a crise até abril, quando a campanha estiver na rua. "Não é possível", desabafou Lula.

Ao mesmo tempo em que tentava reverter os problemas causados pela crise criada entre os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda), Lula, de seu gabinete, conversava com ministros e parlamentares na tentativa de ganhar pelo menos uma batalha. "Foi uma operação de guerra semelhante à montada para eleger Aldo para a Câmara", comentou um interlocutor do presidente.

Segunda-feira passada, no entanto, na sala ao lado, Lula assegurou aos jornalistas que o entrevistaram no programa Roda Viva, da TV Cultura, que não trabalharia para impedir nenhuma CPI, apesar de ter tentado evitar que todas fossem instaladas. "Todos do Planalto foram envolvidos e cada um procurava as pessoas com as quais tinha mais afinidade", comentou um assessor palaciano.

Durante todo o dia, uma romaria de deputados entrou e saiu do palácio. De acordo com interlocutores do Planalto, muitos cobravam o pagamento de emendas que havia sido prometido. O governo tentava mostrar que, aos poucos, as emendas estavam sendo liberadas, era preciso ter paciência. Mas, avisavam que, se o parlamentar decidisse assinar a prorrogação da CPI, podia esquecer o atendimento dos pleitos.

RECLAMAÇÃO

Lula, que mudou seu ministério, sacrificando petistas, para garantir vaga a representantes dos partidos aliados, reclamou muito de alguns auxiliares, "que não movem uma palha" pelo governo. É o caso dos ministros das Comunicações, Hélio Costa, e da Saúde, Saraiva Felipe, ambos do PMDB. Apesar de o governo ter conseguido reverter 5 votos de peemedebistas de Minas, o presidente sabe que não foi graças a eles. O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que tem prestígio junto a Lula e participa das reuniões de coordenação política, "não ajuda em nada e não gosta de receber parlamentares", criticou uma fonte nesta operação no Congresso.

Lula, no entanto, não se cansa de agradecer o trabalho do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, do PTB, que conseguiu retirar praticamente todas as assinaturas do partido em seu Estado, Minas. Também são considerados bons operadores os ministros dos Transportes, Alfredo Nascimento, e das Cidades, Márcio Fortes.