Título: Palocci diz a Lula que tira folga e volta dia 16
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2005, Nacional, p. A8

Irritado com o desgaste de denúncias, pressões da oposição e o fogo amigo da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, aproveitou o despacho com o presidente Lula para avisar que vai emendar o feriado de 15 de novembro e descansar. Antes de sair, ouviu de Lula, mais uma vez, que ele é "imprescindível" e "condição básica" para o governo vencer a crise. Ouviu também que sua presença no governo tem "forte simbolismo" e sua saída afetaria o equilíbrio da administração. Palocci acalmou Lula: disse que quarta-feira estaria de volta ao ministério. Ontem Lula voltou a conversar com Dilma. Muitos bombeiros, além dele, agem para baixar a temperatura no coração do governo. Todos tentam mostrar que a polêmica entre Dilma e Palocci caminha para um desfecho pacífico. Durante toda a manhã, os dois ministros participaram de uma reunião do Conselho de Política Energética e se entenderam bem. O presidente do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, integrante do conselho, comentou que não houve mal-estar. "Não percebemos nada. Eles estavam trabalhando juntos, colaborando e decidindo em total harmonia."

Mesmo convencido de que a temperatura baixou, Lula pôs em ação vários "bombeiros" para convencerem Palocci de que ele é o "principal pilar" do governo e "não pode sair". O presidente avalia que, depois de perder o sustentáculo político, o ex-ministro José Dirceu, não pode permitir a perda do sustentáculo econômico. Por isso, o governo vai reagir à tentativa de tornar Palocci "a bola da vez".

Palocci deixou claro a Lula e a quem o procurou sua "insatisfação" e "chateação". Ele argumentou que, além de cuidar dos assuntos de sua pasta, que não são fáceis, de gerir a crise com o Congresso, que não é menos fácil, e de administrar a crise em torno de si mesmo, "não é possível" ter de agüentar ataques públicos de quem deveria estar ajudando o governo. "Se for assim, é melhor mesmo que eu vá embora", desabafou, insistindo em que "a situação não está nada fácil" e "não dá para apanhar de inimigos e ainda de amigos". Lula ouviu as queixas e concordou.