Título: Balança comercial sem problemas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2005, Economia & Negócios, p. B2

A publicação dos dados da balança comercial no mês de outubro, amplamente noticiada em nossa edição de ontem (primeira página do caderno de Economia), merece, todavia, alguns comentários adicionais, principalmente sobre a sua evolução. Mais uma vez os resultados demonstram que a valorização do real ante o dólar não tem impedido um bom desempenho das exportações. A ligeira queda constatada na média de exportações por dia útil parece ser conseqüência mais da greve na Receita Federal do que de um recuo das vendas.

Em relação a outubro de 2004 se registrou um crescimento de 4,9% das exportações de produtos manufaturados, de 13,6% dos semimanufaturados e de 24,1% dos básicos. Entre os produtos manufaturados, os automóveis continuam ocupar o primeiro lugar, apesar do protecionismo da Argentina. É importante notar que para os produtos manufaturados o quantum (dados de setembro) exportado aumentou 6,6% em relação ao mesmo mês de 2004 e os preços, 11,7%, o que se explica em parte pela venda de derivados de petróleo. Como já assinalamos ontem, a queda de 14% das vendas de carne bovina foi, em parte, compensada pelo aumento das vendas de outros tipos de carne.

As importações registraram recorde histórico para o mês de outubro, um aumento da média por dia útil de 6,5% em relação a outubro de 2004 e de 3,5% relativamente ao mês anterior. Comparando os dez primeiros meses do ano com o mesmo período de 2004, as importações aumentaram 18,1% e as exportações, 22,1%, mas o superávit comercial de outubro, de apenas US$ 3,686 bilhões, foi inferior à média dos nove meses precedentes.

Não se deve estranhar um aumento dos gastos com importações, favorecido tanto pelo câmbio, que torna mais competitivos os produtos importados, como pela alta dos preços do petróleo. Note-se, porem, que em outubro, em comparação com o mesmo mês de 2004, houve uma queda de 11,9% em valor)das compras de combustíveis e lubrificantes, que parece ser conseqüência de um aumento da produção interna e, provavelmente também, da redução do consumo interno.

O fato novo de outubro foi que o aumento das importações de bens de consumo superou, pela primeira vez, o de bens de capital: 38,2% ante 26,5%, em comparação com outubro de 2004. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, as de bens de capital foram 28,9% maiores e as de bens de consumo, 22,3%. Entre os bens de consumo, no mês, as importações de duráveis foram 42,9% maiores e as de não-duráveis, 34,1%, o que parece indicar um enfraquecimento da concorrência dos produtos nacionais.