Título: Merkel vai governar a Alemanha
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2005, Internacional, p. A16

A democrata-cristã Angela Merkel faz acordo com os social-democratas e será a primeira mulher a ocupar o poder no país

BERLIM - A líder democrata-cristã Angela Merkel será a primeira mulher a governar a Alemanha. Ela conseguiu seu grande objetivo depois de duras negociações com os social-democratas de Gerhard Schroeder para formação de uma coalizão com maioria no Parlamento. Serão 449 de um total de 614 cadeiras. "Estávamos numa encruzilhada decisiva", disse ela. E acrescentou, referindo-se às negociações com os social-democratas: "Não há outra alternativa razoável a seguir para concretizar as reformas na Alemanha." Merkel se disse feliz com o desfecho dos entendimentos. "Esta terá de ser uma coalizão de novas possibilidades, que buscará criar novos postos de trabalho", ressaltou.

Ainda faltam ajustes importantes para a conclusão das negociações. Novas reuniões entre as lideranças das duas agremiações ocorrerão até 12 de novembro. Schroeder já deixou claro que não ocupará nenhum cargo no futuro governo.

A base das conversações será um documento no qual já aparecem definidas algumas metas fundamentais da grande coalizão. Entre essas metas, estariam uma simplificação do sistema tributário e um aumento dos investimentos do país em pesquisa.

Quanto às linhas mestras da política externa, é esperada uma continuidade. Merkel quer melhorar as relações com os Estados Unidos, Rússia e China. Sobre a oposição dos conservadores de Merkel ao ingresso da Turquia na União Européia, ela disse que as negociações com os turcos "já começaram" - palavras interpretadas como uma resignada aceitação.

Segundo fontes dos dois partidos, os democrata-cristãos ficariam com 7 dos 15 ministérios. Os social-democratas com as oito restantes, entre as quais pastas importantes, como Relações Exteriores, Finanças, Justiça e Trabalho. A divisão definitiva dos ministérios será tomada nos próximos dias. Franz Muentefering, presidente do Partido Social-Democrata (SPD), disse que nenhum ministério está definido ainda. Mas o líder democrata-cristão da Baviera, Edmund Stoiber, assegurou que ocupará a pasta da Economia.

Aparar as arestas para arredondar a coalizão não será uma tarefa fácil. Pelo menos no SPD. Um quarto da bancada social-democrata (55 deputados) não concorda com o acordo firmado por Schroeder e Muentefering com os democrata-cristão de Merkel e Stoiber. Para o grupo, o SPD ficará com os ministérios encarregados de resolver os problemas do país, enquanto a coligação CDU/CSU ganhará as pastas que definirão o futuro da nação. Mas os analistas são unânimes em afirmar que os social-democratas levaram nítida vantagem na divisão dos ministérios, caso sejam mantidas as estimativas feitas pelas fontes partidárias.

Dentro dessa perspectiva, os analistas arriscam alguns prognósticos. Stoiber, como ele próprio adiantou, ficaria com o Ministério da Economia e Tecnologia. Para as Relações Exteriores, figuram os social-democratas Otto Schily, atual Ministro do Interior, ou Günter Verheugen, que exerce a vice-presidência da Comissão Européia. Os nomes mais citados para as Finanças são os dos social-democratas Franz Walter Steinmeier e Peer Steinbruck.