Título: Ligações revelam poder de Silvio e Delúbio
Autor: Diego Escosteguy, Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2005, Nacional, p. A10

Telefonemas mostram que eles conversavam freqüentemente com empresários, lobistas e altos funcionários do governo

BRASÍLIA - Conduzida pela CPI dos Correios, a análise dos telefonemas dos envolvidos no caso do mensalão começa a revelar a extensão do tráfico de influência exercido pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e pelo ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira no governo Lula. Os registros telefônicos dos dois, ao qual o Estado teve acesso, mostram que ambos conversavam intensamente com empresários donos de contratos na administração federal, lobistas e altos funcionários do governo petista.

Silvio Pereira recebeu 15 ligações, em 2003, do empresário Armênio Mendes, dono de casas de bingo em Santos, que estava interessado na legalização do jogo no Brasil e chegou a ter uma audiência naquele ano com o então subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz.

Apesar de ser oficialmente apenas secretário-geral do PT, Silvinho, como é conhecido, trocou pelo menos 113 ligações com grandes construtoras, todas com contratos e interesses no governo. Somente da OAS, recebeu 65 telefonemas, entre julho de 2003 e maio deste ano. Da Odebrecht, foram 28 chamadas recebidas. Silvinho conversava com pelo menos seis empreiteiras. Ele também discava para o Ministério dos Transportes e para o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, o DNIT.

Com assessores da Petrobrás, Silvinho trocou pelo menos 40 telefonemas. Até agora, a CPI não conseguiu investigar a atuação do ex-secretário na estatal. A saída de Silvinho do PT foi precipitada pela descoberta de que ele ganhara um Land Rover da GDK, construtora que também faturou milionários contratos na Petrobrás durante governo Lula.

LOBISTA

Uma das pistas da CPI para avançar nessa linha de investigação são as dezenas de ligações entre o ex-secretário e o lobista Fernando Moura, amigo de longa data do ex-ministro José Dirceu. Empresários ouvidos pelo Estado contam que Moura se apresentava como "facilitador" de negócios na estatal. Silvinho trocou pelo menos 127 ligações com o lobista desde o começo do governo.

Segundo os registros, a influência do ex-secretário no governo era irrestrita. Silvinho falou pelo menos 670 vezes com números da Presidência da República. Também conversava freqüentemente com diretores de Furnas, Infraero, Correios, IRB e Eletronorte, estatais alvo de denúncias do mensalão.

O ex-secretário também era conhecido do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Falou pelo menos seis vezes com ele e 16 com Orlando Martins, um dos funcionários de Valério responsáveis pela distribuição de recursos a aliados.

Os dados da CPI mostram que o principal interlocutor de Delúbio era André Gustavo Vieira, dono da agência pernambucana Arcos que, no governo Lula, ganhou contrato no BNDES. Em Brasília, segundo publicitários, Vieira procurava donos de agências se apresentando como "representante" do ex-tesoureiro do PT.

Delúbio também conversava com empresas do Grupo TBA, que detém contratos de informática nos Correios, na Eletronorte e na Caixa Econômica Federal. Ele recebeu 50 ligações de números fixos da TBA e 10 do celular da dona do grupo, Maria Cristina Boner.

A Odebrecht informou que não se manifestará enquanto a CPI não tiver uma "posição concreta" sobre as relações com Silvio Pereira. O Estado procurou Vieira, Silvio, Delúbio e Armênio Mendes, mas não houve retorno. A assessoria da TBA informou que as ligações de Delúbio provavelmente se explicam por um contrato que a empresa fechou com o PT no fim de 2003, apesar de boa parte dos telefonemas ser anterior a isso.