Título: Brasil faz emissão de US$ 500 milhões na Ásia
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2005, Economia & Negócios, p. B5

Demanda ultrapassa US$ 3 bilhões e governo já antecipa em US$ 3 bilhões o pagamento da dívida externa de 2006

Com o risco País em queda e um dia depois de a agência de classificação de risco Standard & Poors melhorar a perspectiva de avaliação conferida ao Brasil, o governo voltou ontem ao mercado internacional e lançou mais US$ 500 milhões em títulos da dívida externa com prazo de vencimento de 10 anos, em 2015. Visando ao mercado asiático, o lançamento da operação foi feito em Hong Kong. O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, comanda uma série de encontros com investidores asiáticos. A demanda pelos papéis brasileiros ultrapassou os US$ 3 bilhões.

Para aproveitar a crescente demanda asiática, pela primeira vez o governo aumentou o prazo de horas para os investidores apresentarem as ofertas de compra. Com o lançamento da operação em Hong Kong, às 10 horas da manhã (meia-noite em Brasília), os investidores do Oriente tiveram mais tempo para adquirir o papel brasileiro. O tempo para a apresentação das propostas nas emissões normalmente é muito rápido, de três a quatro horas, o que dificultava a participação dos asiáticos, em razão do fuso horário.

Essa é a nona captação externa da República. No total, as emissões no exterior já somam US$ 7,5 bilhões. É a terceira emissão desse mesmo papel. Pelas condições de mercado, a operação realizada ontem garantirá ao investidor que comprou o papel uma taxa de retorno de 7,765%. É um valor ligeiramente mais alto que o da emissão de junho, de US$ 600 milhões, onde a taxa foi de 7,732%. A captação de fevereiro foi de US$ 1 bilhão e assegurou ao investidor uma taxa de retorno de 7,9%.

Com a nova emissão do Global 2015, o Tesouro Nacional já antecipou em US$ 3 bilhões a captação dos recursos necessários para o governo honrar os compromissos com o pagamento da dívida externa no ano que vem.

O cronograma deste ano, que previa uma emissão externa de US$ 6 bilhões, foi completado antecipadamente no final do primeiro semestre. Parte desses recursos já havia sido captada no ano passado.

O Tesouro já anunciou a sua estratégia de emissões para 2006 e 2007, que considera uma captação total de US$ 9 bilhões nesses dois anos. Segundo fontes, o "clima favorável" criado pela viagem à Ásia (Cingapura, Coréia, Japão, além de Hong Kong) do secretário do Tesouro, Joaquim Levy, e de seu adjunto, José Antônio Gragnani, levou o Brasil a aproveitar a oportunidade para fazer a operação. Nessa viagem, o Tesouro está fazendo uma série de reuniões com os investidores locais.

O Citigroup e o HSBC coordenaram a emissão. A opção pela reabertura do Global 2015, conforme uma fonte, decorreu do fato de o título "estar sendo bem negociado no mercado secundário e de haver uma demanda maior no mercado por papéis de 10 anos. Além disso, já há algum tempo já vinha sendo observado interesse do investidor por esse vencimento.

A operação de reabertura ficou limitada aos US$ 500 milhões com o objetivo de criar uma pressão de demanda que faça os preços ficarem mais favoráveis para o Brasil. O dinheiro entrará nas reservas internacionais brasileiras no próximo dia 17.

Os papéis lançados ontem pelo Brasil foram vendidos com um spread de 312 pontos-base acima dos títulos do Tesouro dos Estados com prazo de vencimento semelhante. Na emissão de fevereiro, o spread havia sido muito maior, de 353 pontos-base. Na de junho, foi de 363 pontos. Os bônus foram negociados por um preço de 100,702% do seu valor de face.