Título: Amigos garantem força de Dirceu no Planalto
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2005, Nacional, p. A15

Fiéis, ministros Dilma Rousseff, Luiz Dulci, Jaques Wagner e diretores de esta tais, entre outros, mantêm porta aberta a opiniões e influência de ex-ministro

O deputado José Dirceu (PT-SP) preservará forte influência tanto no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto no PT, qualquer que for o destino que o plenário da Câmara lhe reservar na votação do processo por quebra de decoro parlamentar, dia 23. Ao contrário de outros que, cassados e sem direitos políticos, caem no ostracismo, Dirceu vai continuar muito ativo. Ele se prepara, por exemplo, para chefiar a mobilização social contra um eventual pedido de impeachment de Lula, cuja iniciativa acha provável que aconteça. "Pensaram que o epílogo desse movimento seria a minha cabeça. Não é", costuma dizer.

Dois fatos recentes deixaram Dirceu com menos esperança de garantir o mandato, apesar dos insistentes recursos no Supremo Tribunal Federal (STF): a derrota recente na Comissão de Constituição e Justiça, que decidiu pela continuidade de processo que pode resultar na cassação de seu mandato, e a repetição do placar de 13 a 1 contra ele no Conselho de Ética na votação de sexta-feira do relatório do deputado Júlio Delgado (PSB-MG). O relatório é favorável à cassação.

Com ou sem mandato, Dirceu terá, no Palácio do Planalto, pessoas de estreita ligação pessoal, como os ministros Dilma Rousseff, da Casa Civil, a quem chamou de "companheira de armas", quando lhe passou o cargo, em junho, Luiz Dulci, da Secretaria-Geral da Presidência, e Jaques Wagner, das Relações Institucionais. No Planalto ele conta ainda com Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, e José Graziano, assessor especial para os projetos sociais.

Na Esplanada dos Ministérios o poder de Dirceu é admitido até por ministros de fora do PT. Ele tem forte ascendência sobre os coordenadores de programas-chave, como o Bolsa-Família, e o programa que leva informática a escolas públicas.

O programa de informática, conhecido por GSAC, foi instalado no Ministério das Comunicações nas gestões dos deputados Miro Teixeira (PDT-RJ) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), sempre sob o comando de Antonio Albuquerque, petista de Pernambuco aliado de Dirceu. Com a chegada do ministro Hélio Costa, Albuquerque foi afastado. Agora, há a notícia de que o aliado voltará ao comando do projeto, só que no Ministério do Planejamento.

RECADOS

Outros aliados de Dirceu estão distribuídos em postos-chave dos ministérios e das estatais. Swedenberger Barbosa, que foi secretário-executivo de Dirceu na Casa Civil, ocupa agora uma assessoria especial no Ministério da Previdência. Na Casa Civil, Dirceu conseguiu manter os assessores Luiz Alberto dos Santos e Miriam Belchior. Na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), José Leite, Jarbas Valente e Pedro Zieler; na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Arthur Chioro e Francisco Rocha; na Petrobrás, Sérgio Grabrielli; na Transpetro, Sérgio Machado.

No governo, no entanto, a tendência é que o poder de Dirceu seja reduzido com o passar do tempo, porque a fidelidade - inúmeras vezes comprovada - é devida a quem tem o poder de nomear e demitir. Sabendo disso, Lula mandou recados a Dirceu para que não se afaste do governo. Admitiu que não tem um operador como ele. E que se a crise piorar, ele pode ser uma peça fundamental na defesa do mandato presidencial.

Embora Lula tenha tolhido algumas das principais iniciativas de Dirceu nos 30 meses em que chefiou a Casa Civil - e até tenha posto alguns auxiliares para vigiá-lo, como o ex-ministro Luiz Gushiken -, foi o presidente quem lhe deu as condições para que controlasse as nomeações. Ainda em 2003 Lula assinou decreto que passou a Dirceu o poder exclusivo de nomear todos os ocupantes dos principais cargos do governo.

LUTA

Para manter sua influência no PT, de onde acredita que poderá continuar a ter uma vida política e orgânica, mesmo que sem os direitos políticos que poderão ser suspensos até 2015 - ou seja, se cassado, só os recuperará com 70 anos - é que Dirceu tem travado a sua luta.

Ele acredita que avançou bem no seu objetivo. Primeiro, acha que não sai marcado como um pessoa corrupta, pois até os votos no Conselho de Ética sempre destacam que o processo é político e que houve uma lambança geral, mas ninguém diz que ele botou dinheiro no bolso.

Também considera que há a seu favor o fato de manter a capacidade de mobilização popular, seja porque foi ele quem tirou o PT de um gueto de esquerda e o transformou em partido de massa, seja porque conserva forte base popular. Na última reunião que fez com militantes, há 15 dias, reuniu 300.