Título: Conselho de Ética aprova cassação de Dirceu, de novo
Autor: Denise Madueno, Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2005, Nacional, p. A22

Só Ângela vota contra parecer que responsabiliza petista por esquema do mensalão; agora. só falta a votação em plenário

Com o mesmo placar de 13 votos a 1, pela segunda vez nos últimos 8 dias, o Conselho de Ética da Câmara aprovou o pedido de cassação do deputado José Dirceu (PT-SP). Agora, depois de atraso de 16 dias causado por manobras regimentais e recursos judiciais, falta uma última etapa para encerrar o processo: a votação no plenário da Casa. Para Dirceu perder o mandato são necessários 257 votos, a maioria absoluta dos 513 deputados, em votação secreta. No julgamento no conselho, os deputados não pouparam Dirceu pelo esquema do mensalão em seus discursos. O tom foi mais contundente ainda com relação à a revelação de quinta-feira da CPI dos Correios, de que dinheiro do Banco do Brasil alimentou as contas do empresário Marcos Valério e beneficiou o PT e partidos aliados.

"Essa descoberta do envolvimento do Banco do Brasil é uma surra moral para milhões que acreditaram nesse time cujo capitão foi o deputado José Dirceu", afirmou Chico Alencar (PSOL-RJ). "O Banco do Brasil financiou essa promíscua situação político-partidária e apareceu (a revelação da CPI) justamente no epílogo disciplinar contra o grande deputado e ministro José Dirceu", ironizou Nelson Trad (PMDB-MS).

DEFESA SOLITÁRIA

Na reunião de ontem, o roteiro e os personagens foram os mesmos da sessão do conselho anulada dia 27 de outubro. A deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) fez a defesa solitária de Dirceu. Ela cobrou isonomia com o caso de Sandro Mabel (PL-GO), lembrando que ele foi beneficiado pela "presunção da inocência". Na terça-feira, o conselho aprovou relatório que recomenda o arquivamento do processo por falta de provas. "Não posso admitir que a presunção de inocência valha para um e não para outro", disse Ângela, argumentando que não há provas contra Dirceu.

O petista não foi à sessão para não legitimar a votação, que será contestada judicialmente pelo seu advogado, José Luís Oliveira Lima. O conselho aprovou o parecer do relator, Júlio Delgado (PSB-MG), que concluiu que foi montado um esquema para garantir apoio político ao governo em troca de dinheiro e Dirceu teve responsabilidade política pelo esquema.