Título: CPI quer indiciar Dirceu por tráfico de influência
Autor: Eugênia Lopes e Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2005, Nacional, p. A6

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), afirmou ontem que vai pedir ao Ministério Público o indiciamento por tráfico de influência do ex-ministro e deputado José Dirceu (PT-SP). No relatório final, que será apresentado entre fevereiro e março do ano que vem, Serraglio também vai propor o indiciamento do ex-ministro Luiz Gushiken, também por tráfico de influência, e do ex-presidente nacional do PT José Genoino por falsidade ideológica. "O relatório final vai tratar do assunto corrupção e falar da relação do Palácio do Planalto com os deputados. Se nós estamos admitindo que os deputados foram corruptos temos de propor a punição do corruptor, que no caso foi o ex-ministro Dirceu", disse Serraglio. Segundo ele, o relatório final deverá propor o indiciamento de 50 a 100 pessoas envolvidas no esquema de corrupção operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. O relator também pretende definir medidas punitivas para partidos políticos, em especial o PT, que participaram do valerioduto. "Vai ter alguma medida em relação aos partidos políticos a partir da conduta do PT", explicou Serraglio.

Ele adiantou, no entanto, que não deverá pedir a cassação do registro do PT.

Em nota divulgada ontem, José Dirceu acusou o relator da CPI dos Correios de "perseguição política" e de "tirar conclusões precipitadas". "De forma precipitada, sem considerar as provas em contrário, ele propôs que eu fosse submetido a processo disciplinar porque teriam me apontado como avalista dos empréstimos feitos pelo senhor Marcos Valério", afirmou o deputado petista, na nota. "Agora, ele afirma que os empréstimos não existem e irá indiciar o ex-presidente do PT José Genoino por falsidade ideológica por causa disso. Essa é uma entre várias contradições desse processo", observou Dirceu. Ele argumentou ainda que a CPI do Mensalão, que acabou na semana passada, "concluiu que não existem provas de que parlamentares receberam dinheiro para votar a favor do governo".

O indiciamento de Luiz Gushiken terá como base os contratos fechados pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) com empresas privadas e o contrato firmado pela Visanet com a DNA Propaganda, uma das agências de publicidade de Valério. A CPI dos Correios descobriu que, pelo menos, R$ 10 milhões de recursos públicos do Banco do Brasil foram desviados para o valerioduto. Segundo o ex-diretor de marketing do BB Henrique Pizzolato o contrato da DNA com a Visanet, que tem a participação acionária do Banco do Brasil, foi firmado por determinação de Gushiken.

Osmar Serraglio explicou que, no relatório final, os empréstimos de R$ 55 milhões obtidos pelas empresas de Valério junto ao BMG e ao Banco Rural serão considerados uma "farsa". Marcos Valério disse que os recursos desses empréstimos foram para o PT e partidos aliados.

"Estamos partindo do pressuposto que os empréstimos não existiram.

Portanto, quem afirma que os empréstimos existiram terá de responder por falsidade ideológica. Esse é o caso do Genoino", afirmou o relator.

Há cerca de três meses, Serraglio apresentou relatório parcial em conjunto com a CPI do Mensalão com os nomes de 19 deputados e ex-deputados que se beneficiaram direta ou indiretamente de recursos do valerioduto. A Câmara já abriu processo por falta de decoro parlamentar contra os deputados que não renunciaram ao mandato. O nome do ex-ministro José Dirceu apareceu no relatório. "O nome do Dirceu estava no relatório parcial referente aos saques e é claro que virá no relatório final, que vai reproduzir tudo o que investigamos na CPI dos Correios", disse Serraglio.