Título: Forças Armadas gastaram R$ 91 mi com adidos no exterior desde 2003
Autor: Diego Escosteguy, Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2005, Nacional, p. A10

No papel, eles têm a vaga função de auxiliar militares brasileiros em trânsito no país; há salários de R$ 24 mil ao mês

BRASÍLIA - Alvos de seguidos cortes orçamentários nos últimos anos, os militares não podem reclamar da tesoura do Ministério da Fazenda em pelo menos uma área. Dados das contas do governo, obtidos pelo Estado, revelam que a administração Lula gastou desde 2003 pelo menos R$ 91,8 milhões com os adidos militares que as Forças Armadas mantêm no exterior. Há casos de adidos ganhando mais de US$ 10 mil por mês (R$ 24 mil), sem contar benefícios e diárias acumuladas. Somente neste ano, os gastos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica com esses militares correspondem ao total de investimentos do governo no programa de modernização da frota da Força Aérea. Documento do Ministério da Defesa enviado ao deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), ao qual a reportagem teve acesso, mostra que o governo mantém adidos ganhando altos salários em países como Polônia, Nigéria, Japão, África do Sul, Egito e Guatemala, entre outros. A papelada registra 132 adidos da Marinha e do Exército, mas não especifica quantos a Aeronáutica mantém lá fora.

No papel, os adidos têm a vaga função de "auxiliar" militares brasileiros em trânsito pelo país. Integram comissões diplomáticas do Itamaraty e, em tese, também assessoram embaixadores. Outra incumbência é "manter diálogo" com os militares dos países em que moram.

OS MAIS CAROS

A Força mais generosa é o Exército. Embora tenha menos militares no exterior do que a Marinha, gasta o mesmo. Em 2003, o Exército pagou US$ 100 mil (R$ 240 mil), em média, por cada adido que manteve lá fora. Isso apenas em salários.

Dos 26 países nos quais a caserna espalhou militares, os que saem mais caro estão na Alemanha, Inglaterra e Angola. O Exército mantém dois adidos em cada um desses países. Na Alemanha, cada militar ganha US$ 130 mil anuais (R$ 312 mil). Na Inglaterra, o valor é próximo: US$ 125 mil (R$ 300 mil). Em Angola, US$ 122 mil (R$ 292 mil).

Os gastos em países como Suriname e Polônia também não são desprezíveis. Em cada país, gasta-se US$ 180 mil pelos dois adidos. Ou seja, US$ 90 mil (R$ 216 mil) por militar. As despesas são semelhantes no Irã, Israel, África do Sul e China.

Além dos salários, o Exército gasta com diárias e passagens aéreas. Em 2003, a caserna despendeu US$ 279 mil em diárias. Em reais, 670 mil.

A Marinha costuma ter um número maior de adidos por país. Só nos Estados Unidos são sete militares desta Força. Isso representa um gasto anual de US$ 633 mil - ou R$ 1,5 milhão.

A Marinha também mostra gastos elevados com passagens aéreas no exterior. Só neste ano eles já chegaram US$ 150 mil (R$ 360 mil).

"ESTARRECIDO"

Autor do pedido de informações, o deputado Luiz Carlos Hauly faz críticas aos elevados gastos com este grupo. "Fiquei estarrecido e impressionado ao receber a planilha de despesas com os adidos", conta. "Os valores indicam falta de planejamento e de prioridade do governo, tendo em vista as restrições orçamentárias. É necessário discutir melhor o assunto."

O deputado federal Jair Bolsonaro (PTB-RJ), capitão da reserva do Exército, tem opinião semelhante. Para ele, as aditâncias militares são importantes, mas não da maneira como vêm sendo usadas. "Infelizmente, as nomeações para as aditâncias têm servido para agraciar alguns militares como prêmio de consolação."

Bolsonaro avalia que as aditâncias ficam em segundo plano numa situação em que o governo não estaria dando prioridade às áreas militares: "Dentro de um quadro onde o governo relega a terceiro plano as Forças Armadas do País, tornam-se dispensáveis as aditâncias no exterior."

Na opinião do deputado e capitão da reserva, o descaso do governo é tão grande que até hoje não tratou adequadamente a questão dos salários militares. "O governo paga R$ 168 brutos a título de salário para um recruta. Não dá para pensar em priorizar pagamentos em dólares para as aditâncias com uma situação desse tipo", desabafa.