Título: Jovens desaprovam os políticos
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2005, Nacional, p. A8

A maioria dos políticos "não representa os interesses da população" na opinião de 64,7% dos jovens brasileiros. Mas 85% deles entendem que "é preciso abrir canais de diálogo entre cidadãos e governo", pois a política é o canal indispensável "para a conquista de direitos". Outra maioria expressiva, 89%, diz que "é preciso que as pessoas se juntem para defender seus interesses". Estas conclusões, mais um pacote de outras sobre escola, trabalho e vida cultural, são parte da pesquisa "Juventude Brasileira e Democracia", que o Instituto Brasileiro de Análises Econômicas e Sociais (Ibase) e o Instituto Pólis vão divulgar na segunda-feira, 28, no Rio de Janeiro. É um trabalho inédito, pela metodologia. A intenção é buscar menos a opinião individual e mais a que é amadurecida, pelos participantes, depois de longos debates. Numa primeira etapa, os pesquisadores reuniram 8 mil jovens de 15 a 24 anos, em sete capitais (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Belém e Salvador) e no Distrito Federal. Numa segunda fase, 913 deles foram selecionados para debater em 39 grupos de 10 a 40 pessoas. O trabalho, inspirado num modelo canadense, começou em setembro e terminou em maio - antes, portanto, da crise do mensalão e das denúncias nas CPIs.

"Descobrimos que nossos jovens são muito lúcidos. Criticam os políticos, mas valorizam a política. Eles estão sedentos por participar", constatou, no final da pesquisa, a professora Eliane Ribeiro, do Departamento de Educação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Ficou patente "um profundo descrédito" nas lideranças políticas e "um tom de indignação e protesto em relação ao desempenho dos governantes". Entre suas prioridades, os participantes dos debates mencionaram "governantes mais responsáveis, fim da corrupção, atenção aos jovens, investimento em educação e renovação das formas de fazer política".

A pesquisa pretendeu "conhecer o potencial de participação do jovem na vida pública" mas dedicou-se, também, a outras formas de sua inserção no grupo.Por exemplo, via açãosocial, em trabalhos voluntários. E, como terceira porta, a cultura - os grupos na escola, na igreja, entre outros. A política foi a principal escolha em Salvador, Recife e DF. A ação social foi apontado como melhor "para ajudar os pobres e para o jovem perceber o resultado imediato de sua ação", mas é "pouco eficiente para mudar a realidade".

E como esses jovens se informam? Pela TV, 84,5%. Por jornais e revistas, 57%. Pelo rádio, 49% e pela internet 27%. Mas esta já é a terceira para jovens das classes A e B. Para os de classes C e D, é a oitava.