Título: Queda de popularidade inviabilizaria reeleição de Lula hoje, revela pesquisa
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2005, Nacional, p. A8

Pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem apontou que a rejeição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumentou mais 4,8 pontos porcentuais em dois meses e chegou a 44,2% do eleitorado, índice que hoje inviabilizaria a reeleição, segundo Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus. Foi a pior avaliação de Lula em quase três anos de governo: 82,1% garantem que não votariam em políticos envolvidos em irregularidades; 77,5% acham que "fatos novos" da corrupção ainda surgirão; 72,6% pensam que a imagem de Lula foi afetada pelos escândalos; e 64,6% dizem que as denúncias do mensalão vão influenciar os seus votos. Para Guedes, o nível de percepção da corrupção pelo eleitorado não se alterou tanto; o que mudou para valer foi a juízo sobre os valores simbolizados pelo presidente Lula e pelo PT. Os indicadores fornecidos pela nova pesquisa sinalizam uma tendência de mais queda na imagem do governo e mostram que a expectativa de uma reversão no quadro, sugerida em setembro, não se confirmou. Um assessor de Lula admitiu ontem que os números causaram preocupação e que uma luz amarela acendeu no Palácio Planalto.

FUNDO DO POÇO

A avaliação positiva do governo caiu 4,7 pontos porcentuais (35,8% em setembro para 31,1% agora), enquanto a avaliação negativa subiu 5 pontos porcentuais (24% em setembro e 29% agora). A avaliação negativa de agora é a pior obtida pelo governo (antes, a mais alta, também em junho de 2004, tinha sido de 24,1%). A maioria do eleitorado (42,8%) acha que Lula "participou da corrupção", enquanto 41,3% dizem o contrário. A pergunta mais direta (as pesquisas anteriores indagavam apenas se Lula "sabia" da corrupção) e obteve resposta mais comprometedora.

O desempenho pessoal do presidente divide o eleitorado: 46,7% (50% em setembro) aprovam Lula e 44,2% (39,4% em setembro) o desaprovam. Os dois indicadores são os mais negativos do governo desde a posse, em janeiro de 2003. A pesquisa CNT/Sensus apurou resultados tão desfavoráveis para o governo que até a satisfação do eleitor com o País, que tradicionalmente decai lentamente ao longo dos governos, sofreu uma inflexão brusca a partir de julho - quando a repercussão dos escândalos começou a desgastar o governo - e continua a cair vigorosamente. O índice, que era de 63% em abril, caiu agora para 57%, o que traduz descrença.

INFLUÊNCIA ELEITORAL

O resultado apurado pela CNT/Sensus mostrou que a propalada influência da economia no julgamento eleitoral não está se concretizando: apesar das perdas na imagem do governo, as respostas sobre adequação da política econômica não mudaram muito desde a última consulta, assim como segue inalterada a confiança do eleitor no desempenho da economia. Enquanto isso, a soma da avaliação positiva dos programas sociais do governo caiu 6,4 pontos porcentuais e a soma da avaliação negativa cresceu 10,4 pontos.

A maioria do eleitorado (51%) considerou que o resultado do referendo que rejeitou a proibição de armas foi uma derrota governamental, enquanto uma minoria (36,2%) não ligou o resultado à derrota do governo. A pesquisa teve margem de erro de 3 pontos porcentuais e colheu a opinião de 2 mil eleitores brasileiros, em 195 municípios, entre os dias 14 e 17 de novembro.