Título: Grandiosas redundâncias e pífios resultados
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Nacional, p. A15

O deputado João Alfredo (PSOL-CE), um ex-petista histórico e ex-advogado do Movimento dos Sem-Terra (MST), foi coerente com sua trajetória política. Encarregado da redação do relatório da CPI da Terra, produziu um documento cujo foco é a defesa da reforma agrária e do Movimento dos Sem-Terra (MST). Visto de longe, o cartapácio de 774 páginas impressiona. É recheado de citações bibliográficas, transcrições, análises sociais e econômicas, ilações históricas. Visto de perto, é pífio. Deixa a impressão de que a CPI não produziu nada de novo, o que teria obrigado o relator a alinhavar às pressas estudos e pesquisas já existentes. Gasta páginas e páginas reproduzindo pesquisas sobre violência realizadas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), que são amplamente conhecidas. O relator é redundante até na defesa do MST. Bernardo Mançano Rodrigues e Ariovaldo Umbelino de Oliveira, entre outros acadêmicos que militam na causa dos sem-terra, já argumentaram de forma mais desembaraçada que o deputado. O texto também causa a impressão de que a CPI andou às cegas. Por mais que João Alfredo se esforce para tentar explicar, é incompreensível a existência de um capítulo tão longo para a questão urbana, enganchado num conflito ocorrido entre policiais e sem-teto em Goiânia, em fevereiro. Aliás, por que a CPI se deslocou até lá? O naufrágio torna-se completo no final, no capítulo das sugestões, que também impressionam pela grandiosidade: são 150 no total. Na maioria dos casos, porém, velhas e redundantes. Repisam conselhos óbvios, como a necessidade da regularização fundiária, e até iniciativas que já estão em andamento, como o programa de combate ao trabalho escravo. Para quem consegue cruzar o documento, as perguntas são inevitáveis: para que serviu e qual era o objetivo da CPI? Para que o contribuinte pagou viagens de parlamentares por todo o País? Das duas uma: ou o relator não refletiu o que houve na CPI, ou ela não soube a que veio.