Título: Compra de dólar não evita queda
Autor: Fábio Graner e Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

Mesmo comprando US$ 13,6 bilhões no mercado interno de câmbio de janeiro a outubro (US$ 3,37 bilhões somente no mês passado) deste ano, o Banco Central (BC) não consegue segurar a cotação do dólar. Nesse período, a moeda americana se desvalorizou 15,15% em relação ao real. Em novembro, o mercado financeiro estima que as compras já teriam chegado a US$ 3,2 bilhões e o dólar caiu mais um pouco - 0,44% -, fechando ontem em R$ 2,242. O BC não reconhece que a política de comprar dólares tenha por objetivo conter a valorização do real, motivo de críticas duras do setor exportador e de seu principal porta-voz no governo, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. "O câmbio é flutuante", disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, repetindo o bordão da equipe econômica para responder às críticas contra a valorização excessiva do real.

Segundo o BC, a intenção das aquisições de dólares é reforçar as reservas internacionais brasileiras, importante indicador econômico da capacidade de o País honrar seus compromissos lá fora. De fato, isso vem acontecendo. As compras do BC já permitiram que as reservas brasileiras - sem considerar os empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) - quase dobrassem ao longo deste ano, subindo de US$ 27,54 bilhões para US$ 46,46 bilhões em outubro.

De acordo com novos projeções divulgadas ontem, o BC estima que as reservas fecharão o ano em US$ 47,92 bilhões. E o valor vai aumentar com a aceleração das compras em novembro. Em praticamente todos os dias deste mês, o BC realizou leilões de compra de dólares.

Para 2006, as reservas devem continuar subindo, segundo o BC. A nova projeção divulgada ontem aponta para um saldo de US$ 55,38 bilhões, ante US$ 51,5 bilhões.

Incluindo os financiamentos do FMI, as reservas internacionais fecharam outubro em US$ 60,24 bilhões. Em novembro, já estão em 63,56 bilhões. As reservas sem o dinheiro do FMI , no entanto, são um melhor indicador para análise da situação brasileira, pois refletem a capacidade efetiva de o País enfrentar por si só crises externas.

Além disso, os recursos do Fundo não podem ser utilizados para intervenções no câmbio. Dessa forma, ao engordar as reservas, o BC garante uma rede de proteção para o País enfrentar as turbulências externas e internas que podem surgir no ano que vem.