Título: Nova testemunha complica Sombra
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/11/2005, Nacional, p. A7

Uma nova testemunha do seqüestro do prefeito de Santo André Celso Daniel, ouvida ontem pelos senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Magno Malta (PL-ES), reforça a tese do Ministério Público paulista de que o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, seria o mandante do crime. Moradora de um prédio na rua dos Três Tombos, na Vila das Mercedes - onde Celso Daniel foi levado da Pajero de Sombra na noite de 18 de janeiro de 2002 -, ela relatou ter visto um dos seqüestradores entrar pela porta traseira do veículo, permanecer alguns instantes no banco de trás e sair. Não soube dizer, porém, se a pessoa levou algo. O depoimento coincide com informações passadas pelo preso Aírton Alves Feitosa, que sustenta ter ouvido relato segundo o qual US$ 40 mil dólares, parte do pagamento pelo seqüestro e execução de Daniel, estariam no banco de trás da Pajero e seriam levados junto com o prefeito. "É uma informação relevante", afirmou Malta, referindo-se à nova testemunha. "Não estamos dizendo que Sérgio Gomes da Silva foi o responsável pela morte, mas a Justiça acatou a denúncia do Ministério Público que o aponta como mandante."

Integrantes da subcomissão da CPI dos Bingos que analisa o caso Santo André, Suplicy e Malta ouviram ontem 10 testemunhas em quatro horas de ronda no local onde Celso Daniel foi seqüestrado. As identidades serão mantidas sob sigilo. Apenas duas, segundo Suplicy, já haviam falado à polícia.

"Estamos analisando tudo com muito cuidado. O marido da testemunha que viu um dos bandidos entrar no carro e também presenciou os acontecimentos não confirmou essa informação", disse Suplicy. "Também temos outra testemunha que contou ter socorrido o empresário, que parecia muito nervoso e pediu água com açúcar."

Na primeira incursão à Vila das Mercedes, na semana retrasada, Suplicy localizou duas testemunhas que destacaram o fato de Sérgio Gomes da Silva não ter sido abordado pelos seqüestradores. Ontem, os senadores ouviram histórias semelhantes. Pelo menos duas pessoas disseram ainda que viram Sombra com uma arma na mão. Suplicy e Malta também foram almoçar no restaurante Rubayat, onde o empresário e Celso Daniel jantaram na noite do crime.

Feitosa presta depoimento hoje, em São Paulo, à CPI. Ele fugiu da cadeia de Guarulhos com Dionísio de Aquino Severo, já morto, acusado de ser o coordenador do seqüestro do prefeito. No esconderijo, Feitosa teria presenciado parte das tratativas de Dionísio, daí a informação sobre os US$ 40 mil no banco de trás da Pajero. Também será ouvido Geleião, um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), que à época do crime já havia procurado Suplicy alegando que havia "ordem para que todos os envolvidos ficassem calados".

Sombra nega ser o mandante do seqüestro.

ACAREAÇÃO

A CPI dos Bingos também promove hoje, na capital, uma acareação entre Gomes da Silva e as sete pessoas presas pelo crime. "Nosso principal objetivo é buscar elementos para saber se o empresário foi o mandante", explicou Suplicy. Os promotores de Santo André sustentam que o empresário encomendou a morte de Celso Daniel para "assegurar" a manutenção de um esquema de corrupção na cidade. A quadrilha teria pedido US$ 1 milhão pelo assassinato do prefeito. Acompanham a acareação o senador Romeu Tuma (PFL-SP), os promotores Roberto Wider e Amaro Thomé Filho, delegados da Polícia Civil e o deputado estadual Romeu Tuma Jr., que, na condição de delegado seccional de Taboão da Serra, conduziu as primeiras investigações sobre o assassinato.