Título: Mercosul vai unido a Hong Kong
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2005, Economia & Negócios, p. B4

Chanceleres reunidos em Montevidéu decidem que países desenvolvidos só terão resposta se concordarem com discussão agrícola

Os chanceleres do Mercosul - Celso Amorim, do Brasil; Rafael Bielsa, da Argentina; Reinaldo Gargano, do Uruguai; e Leila Rachid, do Paraguai -, reunidos ontem em Montevidéu, estabeleceram um acordo para a reunião de dezembro da Organização Mundial do Comércio (OMC, em Hong Kong. Para eles, só "um avanço" no tema agrícola dará "respostas" aos países desenvolvidos. Os chanceleres, em declaração conjunta, expressaram "preocupação pela falta de flexibilidade demonstrada por certos países desenvolvidos para reduzir substancialmente ou eliminar o protecionismo agrícola e os subsídios que pagam". Advertiram que "as demandas de abertura feitas pelos países desenvolvidos em relação ao acesso ao mercado para produtos agrícolas e no comércio de serviços, não correspondem, com suas ofertas, a nenhum dos três pilares da negociação agrícola". Para o Mercosul, prosseguem, "somente o avanço nas negociações sobre agricultura poderá encontrar respostas proporcionais em outras áreas de negociação".

O "compromisso com o êxito da Rodada Doha" é destacado pelos chanceleres. Eles afirmam que "neste momento de definições do processo" o lugar ocupado pela agricultura é "central" e reiteram "o compromisso com o trabalho realizado no âmbito do G-20, com o objetivo de eliminar as políticas distorcivas do comércio agrícola e de promover a liberalização comercial da agricultura".

Para o uruguaio Reinaldo Gargano, foi "uma reunião muito importante de coordenação política, para levar a Hong Kong". Essa política, explicou, "tem como objetivo buscar a eliminação dos subsídios aos produtos agrícolas, de rebaixar os impostos e propiciar a abertura dos mercados para que nossos produtos entrem sem taxação, sem limitações aos mercados dos países desenvolvidos".

A paraguaia Leila Rachid indicou que os chanceleres "estão com alto nível de expectativa sobre o desenvolvimento da Rodada Doha como parâmetro geral" e que "temos ouvido pronunciamentos de chefes de estado de países desenvolvidos que já mostram um avanço", referindo-se ao pronunciamento do ministro britânico Tony Blair que incentivou, na segunda-feira, os países da União Européia (UE) e os Estados Unidos a "ir mais longe nas negociações sobre agricultura", de forma a sair do impasse nas discussões da OMC e para o sucesso da reunião de Hong Kong.

O encontro de dezembro, porém, já é considerado um fracasso. Até agora, os países não entraram em acordo, apesar de inúmeros encontros que a OMC promoveu entre ministros dos países. A UE apresentou uma tímida proposta de negociação, que é rejeitada pela França. Assim, tudo indica que o tema vai se estender por mais algum tempo.

LULA

Foi justamente o discurso de Blair que fez o Luiz Inácio Lula da Silva cobrar uma posição mais ambiciosa da União Européia (UE) sobre a abertura do mercado agrícola e a redução dos subsídios agrícolas. O presidente brasileiro enviou carta a Londres, ontem, porque o Reino Unido preside o bloco europeu neste semestre.

"É indispensável que a União Européia dê sinais claros de que está efetivamente disposta a abrir mercados e a reduzir subsídios internos, que hoje são, de longe, os maiores do mundo", disse Lula.

"Estou certo de que os países em desenvolvimento não deixarão de fazer sua parte em prol do nosso objetivo comum de fortalecer o sistema multilateral e tornar o comércio mais livre e mais justo."

O presidente lembrou que os Estados Unidos fizeram um gesto relevante sobre a redução dos subsídios. Mas esse movimento terá de ser somado a novas disciplinas sobre as subvenções aos produtores rurais. A decisão de Washington depende de iniciativas mais generosas da União Européia na área agrícola.

Lula reiterou que "os países em desenvolvimento não deixarão de fazer sua parte em prol do nosso objetivo comum".