Título: Ministro só vai à CPI depois de acareação de ex-assessores
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2005, Nacional, p. A9

Previsto para a próxima semana, o depoimento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na CPI dos Bingos terá de esperar a acareação entre seu secretário particular, Ademirson Ariosvaldo da Silva, e três de seus ex-assessores - Rogério Buratti e Vladimir Poletto, ex-secretários na prefeitura de Ribeirão Preto, e Juscelino Dourado, o ex-chefe de Gabinete no Ministério da Fazenda. Todos eles já depuseram na CPI e o requerimento que os reconvoca será votado hoje. A expectativa do presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), é que se possa marcar a acareação para a terça-feira. Para isso, vai telefonar hoje para Palocci e acertar a data de sua ida à CPI, provavelmente a quarta ou quinta-feira da semana que vem. A decisão de ouvir quatro dos mais próximos assessores do ministro - todos eles membros da chamada "República de Ribeirão" - foi tomada após Ademirson ter desagradado aos senadores. Em seu depoimento, ontem, ele insistiu ter tratado apenas de "assuntos de amigos" nas 1.411 vezes em que falou com Poleto, no período de abril de 2003 a agosto último. "Ele estava sozinho (em Brasília), nossa relação era desse nível, de amizade", alegou.

A suspeita da comissão é que ele intermediava os contatos do ministro com seus ex-assessores envolvidos em uma série de denúncias, da suposta extorsão da multinacional Gtech e da denunciada doação de dólares de Cuba à cobrança de mensalão da empresa Leão Leão para abastecer o caixa 2 do PT.

O relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), lembrou que Buratti havia declarado à comissão que conversou "algumas vezes" com o ministro no celular que fica em poder de Ademirson. Ele concordou, mas disse que a maioria das ligações era para ele mesmo. Com relação ao deputado José Dirceu, disse que ele ligou "várias vezes" para Palocci.

"E eu transmiti o recado ao ministro', disse. De acordo com a CPI dos Correios, de 7 a 13 de julho último, Dirceu ligou sete vezes para o ministro e teve 2 retornos.

Ademirson Ariosvaldo da Silva manteve a mesma versão, de conversas de amigos, quando confrontado com números que revelam ter sido maior ainda seu contato com Poleto, Buratti e Ralf Barquete (falecido no ano passado), no período de renovação do contrato das loterias da Caixa Econômica Federal (CEF) com a Gtech. Os dados foram obtidos pela quebra dos sigilos telefônico dos três. Já a quebra de suas ligações e do sigilo bancário será votada hoje na CPI.

No período da renovação desse contrato, de 31 de março a 14 de abril, Ademirson falou com Barquete 115 vezes, o que dá uma média de 7,67 vezes por dia. No período, foram trocadas 262 ligações entre os quatro - ou 17,47 vezes/dia. Segundo Efraim Morais, as chamadas eram seguidas, de Buratti para Barquete, deste para Ademirson, que ligou para Barquete e assim por diante. "No dia da assinatura do contrato, 8 de abril, o senhor Ademirson recebeu duas ligações de Poleto e cinco de Ralf, sendo a ultima às 23h30", informou o senador.

A falta de colaboração do secretário particular do ministro Palocci na CPI aumentou as suspeitas existentes contra ele. A julgar pelas suas respostas, ficou parecendo que ele é pago com dinheiro público unicamente para conversar amenidades no telefone com seus amigos. "Não é possível acreditar que em tantos telefonemas não houve um assunto concreto, ligado a negócios ou ao governo", protestou Garibaldi.

Provocado pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), Ademirson admitiu que o depoimento de Vladimir Poleto, no qual atribuiu as declarações que deu sobre a doação de Cuba à "cachacinha" que havia tomado, o deixaram "espantado". Ele contou ter ido "nove vezes", à casa alugada por Poleto no Lago Sul, bairro nobre de Brasília - um endereço que teria sido montado para funcionar como um escritório de empresários que não dispunham de local para trabalhar na cidade. No entanto, ele ocultou os nomes dos freqüentadores do local e não quis revelar o que fazia por lá. Para avançar nas investigações, a CPI vai quebrar hoje o sigilo dos telefones instalados na residência, no período em que era freqüentada por Poleto e seus amigos.