Título: Marronzinho vê e ouve de tudo nas ruas
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2005, Metrópole, p. C1

Com 13 anos de trabalho na Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o marronzinho Lucio Hideki Fujimoto, de 36 anos, já viu de tudo nas ruas de São Paulo. Motoristas que fingem desconhecer os sinais de trânsito para burlar a lei, os que utilizam o "você sabe com quem está falando" para se livrar das autuações e até os que partem para a agressão. "Tem aqueles que, além de ameaças, xingam e fazem gestos obscenos. Mas tem os que param, pedem desculpas e querem assinar a guia amarela do auto de infração", disse Fujimoto, que já foi agarrado por um casal quando o multava por estacionamento proibido na Avenida São Miguel, na zona leste. "O homem e a mulher me puxaram pelo casaco e pediam que eu anulasse a multa. A muito custo consegui me desvencilhar, entrar na caminhonete e sair correndo do lugar."

Hoje Fujimoto atua na região central. Diz que seu maior problema são os motoristas que param em calçadas e locais proibidos. Por causa da ida para a região de vários órgãos públicos, aumentou muito a demanda por vagas de estacionamento. "Alguns infratores dizem que vão ligar para o presidente da CET para que nós sejamos demitidos."

O gerente da Central de Operação da CET, Gilson Grilli, lembra de três casos graves em que marronzinhos foram vítimas. Em 1997, Vagner Freitas foi morto com cinco tiros no cruzamento da Rua Sapetuba com a Avenida Francisco Morato, após pedir ao motorista para que colocasse o cinto de segurança. Vagner Vargas ficou seis anos sem trabalhar após ser atingido, em 1998, por um tiro dentro de um carro da CET na Paulista. Há três anos, Lucio Formigoni morreu ao ser atropelado quando colocava cones na Radial Leste. "O motorista o atingiu de propósito", disse Grilli.