Título: CPI dos Bingos ouve assessor de Palocci hoje
Autor: Cida Fontes e Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2005, Nacional, p. A4

As cúpulas do PSDB e do PFL já estão se articulando para decidir sobre a conveniência ou não de "convidar" o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para depor na CPI dos Bingos sobre as supostas denúncias de corrupção envolvendo seus ex-auxiliares na prefeitura de Ribeirão Preto. Ao mesmo tempo, o próprio relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), admite que o clima já está "morno" em relação ao comparecimento do ministro. A data poderá ser acertada esta semana pelo presidente da comissão, senador Efraim Moraes (PFL-PB), em acordo com Palocci. "As denúncias estão esfriando e não sabemos quando o depoimento vai acontecer", disse Garibaldi Alves, que integra a base aliada do governo.

Hoje, a CPI dos Bingos vai ouvir Ademirson Ariovaldo da Silva, que é assessor especial de Palocci. Ao longo das investigações, a CPI já identificou mais de 1.400 ligações telefônicas entre Ademirson e Vladimir Poleto, ex-assessor do ministro na prefeitura de Ribeirão Preto. Poleto é suspeito de tráfico de influência no governo para beneficiar empresas privadas e teria transportado dólares vindos de Cuba para o PT.

Apesar de Palocci ter se reunido no domingo com a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, para selar a paz, há controvérsias sobre o fim da briga entre os dois. Parlamentares que têm conversado com o ministro da Fazenda desde que eclodiu a crise interna no governo sobre o rumo da política econômica afirmam que ele continua descontente e apostam que sua situação ainda não está totalmente definida.

Apesar das sucessivas demonstrações públicas de apoio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda estaria titubeando em relação à posição do ministro.

Na avaliação desses interlocutores, o presidente poderá assumir uma posição mais próxima da de Dilma, autorizando aumento de gastos públicos.

DILEMA

Por isso, a oposição vive um novo dilema: se Lula quer afastar Palocci, seria melhor para o PSDB e o PFL deixarem o desgaste apenas para o presidente, isentando-se da responsabilidade sobre uma eventual demissão do ministro.

Nas conversas com líderes políticos, os emissários de Palocci afirmam que ele não quer comparecer à CPI e pede que a data seja adiada ao máximo. No acordo aprovado pela CPI dos Bingos, o ministro deve comparecer à comissão até o dia 10 de dezembro.

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, também entrou no circuito político para ajudar Palocci nas negociações com a oposição, sobretudo com o PSDB. Ele trabalhou no governo Fernando Henrique Cardoso e mantém relacionamento estreito com o ex-presidente e com os principais líderes tucanos.