Título: Para CPI, governo quer abafar investigação
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2005, Nacional, p. A7

Boicote parte do ministro da Justiça e do BB, dizem Delcídio e Gustavo Fruet

A cúpula da CPI dos Correios está certa de que o governo vem tentando boicotar os trabalhos da comissão. Avalia ainda que a "operação-abafa" é conduzida pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que tem dificultado o acesso a documentos considerados vitais para a conclusão das investigações. "O Ministério da Justiça bate o recorde no boicote", resume o relator-adjunto da CPI, deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). "Não acredito em bruxas. Mas que elas existem, existem. Me preocupa a lentidão com que as informações estão chegando à CPI", emenda o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS). Um dos maiores motivos da insatisfação dos parlamentares tanto de oposição quanto da base aliada é a resistência do Ministério da Justiça em entregar à CPI os documentos obtidos com a Promotoria de Nova York a partir da quebra do sigilo da conta Dusseldorf, do publicitário Duda Mendonça, nas Bahamas. Os dados já foram enviados para o Brasil e estão nas mãos da Polícia Federal, do Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça e do Ministério Público.

"A Polícia Federal não colabora em nada conosco. A PF só se interessa que nós mandemos informações; ela não nos dá uma informação sequer de volta", reclama Paes.

Para o sub-relator de movimentação financeira da CPI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), as instituições governamentais não têm colaborado com o trabalho da comissão. "Não posso dizer que esteja havendo manipulação de dados, mas não temos 100% de segurança nas informações que nos são enviadas. Não há uma cooperação consistente das instituições oficiais com a CPI", diz o tucano.

DADOS ERRADOS

Um dos episódios constantemente citados pelos integrantes da comissão parlamentar de inquérito como exemplo da má vontade de organismos oficiais foi o envio de dados errados pelo Banco do Brasil, em que apareciam depósitos nas contas do deputado José Dirceu (PT-SP), do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e do ex-presidente nacional do PT José Genoino. "O Banco do Brasil manda várias informações confusas para que nós as divulguemos. Como elas são inverdades, isso acaba desacreditando o trabalho da CPI", denuncia Paes.

A cúpula da CPI dos Correios não mede críticas à atuação do Banco do Brasil. Estão convictos de que há uma operação para tentar desacreditar a descoberta de que pelo menos R$ 10 milhões de recursos públicos do BB foram parar no caixa 2 operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para o PT.

Esses recursos, segundo a apuração da comissão, saíram da Visanet, que administra o cartão Ourocard do Banco do Brasil, para abastecer o valerioduto. "O Banco do Brasil informou que fez uma auditoria nas contas da Visanet, mas até agora não nos apresentou nenhum resultado", observa Gustavo Fruet.

BUROCRACIA

O sub-relator de contratos da CPI, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), é outro que reclama da posição das instituições governamentais. O petista argumenta, no entanto, que o governo não está boicotando a CPI e que as dificuldades que surgem são fruto da estrutura burocrática da administração pública federal. "Não existe uma decisão do governo de boicotar a CPI. O que existe são resistências do corpo burocrático", afirma Cardozo.

Ele admite que enfrentou resistências junto aos Correios, ao Departamento de Aviação Civil (DAC) e ao Banco do Brasil para conseguir fechar o relatório parcial que trata de irregularidades em contratos fechados entre a Skymaster, companhia de transporte aéreo, e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).

Para os parlamentares da CPI dos Correios, a estratégia do governo para tentar inviabilizar as apurações da comissão ficou clara há cerca de duas semanas, quando o governo não poupou esforços para convencer deputados a retirarem suas assinaturas do requerimento que prorrogou o funcionamento da comissão até abril de 2006.

A operação do governo foi malsucedida e expôs o Palácio do Planalto.