Título: Expansão insatisfatória do crédito
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2005, Economia & Negócios, p. B2

Acelerou-se, em outubro, o ritmo dos empréstimos, em especial os contratados pelo setor privado, mas menos do que no mesmo período do ano passado. Entre setembro e outubro de 2004, os saldos totais dos empréstimos com recursos livres e direcionados, para financiar vendas de fim de ano, cresceram mais de R$ 12 bilhões. No mesmo período deste ano o valor foi de R$ 9 bilhões, o que é pouco em face da sazonalidade, embora mais do que os R$ 6 bilhões do bimestre anterior. O crédito total atingiu 30% do produto interno bruto (PIB), ante 29,8% em setembro e 26,9% em outubro do ano passado - crescimento, portanto, de 3,1 pontos porcentuais como proporção do PIB. Trata-se do porcentual mais elevado do período recente, mas inferior à média mundial. No entanto, devem-se projetar novos aumentos na relação crédito/PIB, na medida da queda da taxa Selic e dos juros cobrados dos tomadores.

As operações de crédito consignado em folha de pagamento aumentaram R$ 760 milhões ou 2,5% entre setembro e outubro, mas houve queda do ritmo das contratações, que haviam crescido 12% no último trimestre (cerca de 4% ao mês) e 91,9% nos últimos 12 meses. Essa maior cautela dos tomadores pessoas físicas é útil para conter um maior crescimento futuro da inadimplência, que já se prevê, caso perdure o desaquecimento da economia, ainda mais porque, apesar da diminuição do juro básico, as taxas cobradas no crédito consignado aumentaram 0,2 ponto porcentual em outubro.

Bancos privados nacionais e estrangeiros lideraram as concessões de crédito, participando, respectivamente, com 40,8% e 22,5% do volume total de empréstimos, com crescimentos de 2,4% e de 2,3% em relação a setembro. Já nos bancos públicos o acréscimo mensal foi de apenas 1,3%, por causa da queda das operações do BNDES, que se reduziram 1% entre setembro e outubro.

O recuo dos empréstimos do BNDES também contribuiu para a deterioração dos dados sobre o crédito direcionado (feito com taxas de juros administradas), que cresceu apenas 1,3% no mês e 7,5% em 12 meses.

Na nota sobre Política Monetária e Operações de Crédito, distribuída na sexta-feira pelo BC, as autoridades reconhecem que a expansão observada até agora na oferta de crédito não é condizente com as necessidades do último trimestre do ano. É um fator a mais a favor da conveniência de se acelerar a política de redução dos juros.