Título: Melhora da distribuição de renda já é consistente
Autor: Fernando Dantas, Robson Pereira, Paulo Baraldi
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2005, Economia & Negócios, p. B4

O rendimento médio do trabalhador brasileiro parou de cair em 2004, e a distribuição de renda prosseguiu numa tendência de melhora que já tem mais de dez anos. A renda média vinha caindo ano a ano, ininterruptamente, desde 1997, quando atingiu R$ 903 mensais (a preços de setembro de 2004, quando a PNAD foi a campo). Em 2004, porém, a renda real média ficou em R$ 733, exatamente o mesmo valor registrado em 2003. Este nível ainda é 18,8% inferior ao de de 1996, e 25% menor que o de 1986, o ano do plano Cruzado, quando a renda média foi de R$ 977. Por outro lado, prosseguiu em 2004 o movimento de melhora da distribuição de renda no Brasil, iniciado em 1993. O índice Gini da renda do trabalho, que mede a desigualdade (quanto mais alto, pior) caiu de 0,6 em 1993 para 0,547 em 2004, o menor valor do índice desde 1981. Em 2003, o Gini foi de 0,554. Em 2004, a metade mais pobre da população que estava trabalhando teve ganho real de 3,2%, e a metade mais rica, perda de 0,6%, concentrada nas faixas superiores.

"A desigualdade, que subiu nos anos 60 e depois ficou praticamente parada, está dando sinais de queda, que parece inclusive estar se acelerando", diz Marcelo Neri, do Centro de Política Social (CPS) da Fundação Getúlio Vargas no Rio.

A queda da renda média dos brasileiros como um todo, desde 1997, corresponde a um período em que a economia brasileira foi atingida por diversos choques externos e teve crescimento medíocre na maioria dos anos. Segundo o economista Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central (BC), a queda da renda desde o final dos anos 90 é o outro lado da moeda do ajuste externo do País, que saiu de um déficit em conta corrente de 5% do PIB para um superávit de 2%. Os salário mais baixos tornam o País mais competitivo no comércio externo.

Apesar de decepcionante em termos de evolução da renda, 2004 foi um bom ano na redução da desigualdade. A PNAD constatou que o maior aumento de renda, de 4%, foi justamente para os brasileiros no grupo dos 10% mais popbres, que saíram de uma média de rendimento do trabalho de R$ 73 para R$ 76, em valores constantes, isto é, descontada a inflação, entre 2003 e 2004. Entre os 10% mais ricos, houve queda de 1,7%, de R$ 3.322 para R$ 3.266. Esta queda se acentua para 2,2% quando se tomam os 5% mais ricos (de R$ 4.748 para R$ 4.643).

Para José Márcio Camargo, economista da PUC-Rio, uma das explicações para o melhor desempenho dos mais pobres em 2004 foi o forte crescimento do emprego, com a criação de 2,7 milhões de postos de trabalho, com predominância de mão de obra não qualificada. Quanto à melhora mais de longo prazo, ele e Neri apontam avanços na educação, como o fato de que, desde meados da década de 90, a proporção de pessoas de 7 a 14 anos na escola saiu de 85% para 97%. F.D.