Título: ProUni deve ter 1 milhão de inscritos
Autor: David Moisés, Simone Iwasso
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2005, Vida&, p. A38

É a projeção do MEC para o programa de bolsas em universidades e faculdades particulares; 100 mil vagas devem ser oferecidas

Cerca de 1 milhão de pessoas que terminaram o ensino médio e pararam de estudar deverão se inscrever no Programa Universidade Para Todos (ProUni), apostando na bolsa de estudos do governo federal para tentar um curso superior. Elas estão entre os 2.199.635 candidatos que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2005 - e o Ministério da Educação sabe que grande parte só participou da avaliação por ela ser um pré-requisito para pleitear uma bolsa do ProUni. O MEC prevê uma avalanche de candidatos neste ano, muito mais que os cerca de 400 mil do ano passado. Dos que fizeram o Enem em 25 de setembro, 45,5% já estavam fora da escola. Os demais 54,5% são estudantes que terminam neste ano o ensino médio e tendem, em geral, a usar o Enem apenas como reforço na pontuação dos vestibulares que estão prestando para 2006. Mas também eles podem se somar ao milhão que o MEC estima estar de olho no ProUni.

As grandes preocupações do ministério começam no número de bolsas disponíveis e vão até a baixa capacidade de muitos candidatos em efetivamente cursar uma universidade. O problema das bolsas é que estão previstas inicialmente apenas 100 mil para 2006; o problema desses 2 milhões de estudantes do Enem é que 60% deles tiveram desempenho "de insuficiente a regular", de acordo com Ataíde Alves, diretor de Avaliação e Certificação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que coordena o exame.

Se houver uma nota mínima do Enem para pleitear uma bolsa do ProUni, como ocorreu no ano passado, a maioria deve ficar de fora da seleção, uma frustração para milhares de jovens de baixa renda que viram no programa a única chance de se graduar e melhorar de vida. A questão é delicada. O MEC deixou aberta uma janela para que não haja essa nota mínima. "Isso ainda não está definido", afirma o diretor do Departamento de Modernização e Programas da Educação Superior do MEC, Celso Carneiro Ribeiro. Cuidadoso, ele prefere dizer que "é possível que haja uma nota de corte", lembrando que na primeira inscrição para o programa, em 2004 para o ano de 2005, também ficou indefinida essa questão - mas a nota de corte foi adotada. Na época, era preciso acertar pelo menos 40% da prova - mas quem realmente conseguiu uma vaga em uma faculdade teve em média 65% de acertos.

A falta de uma nota mínima não significa que o bolsista do ProUni vai entrar automaticamente numa faculdade ou universidade particular. O programa prevê que as instituições podem aplicar uma prova seletiva e rejeitar quem não tiver condições mínimas de fazer um curso superior - neste caso, o bolsista perde o benefício. Mas isso fica a critério de cada instituição.

No plano da oferta de bolsas, o MEC se esforça para garantir o maior número de instituições no programa. O número de bolsas para 2006 garantidas até o momento é segredo no ministério. "Muitas instituições começaram a cuidar da documentação mais tarde e os dados ainda estão chegando, mas podemos dizer que estamos muito satisfeitos até o momento", disse Ribeiro.

O prazo para a adesão das instituições foi ampliado duas vezes. Era para terminar no dia 25 de novembro; depois, acabaria ontem. Agora, foi esticado para a próxima sexta, dia 9. É a data final, garante Ribeiro, que justifica a demora das instituições: "As que já participam do ProUni não podem simplesmente renovar a adesão para 2006, elas precisam prestar contas de sua participação no programa".

DESEMPENHO

Além de conferir o número de bolsas concedidas com o volume de benefícios fiscais recebidos do governo federal, como estabelece o ProUni, a instituição também deve informar ao MEC a vida acadêmica dos bolsistas. Isso pegou muitas faculdades e universidades de surpresa. Mas o governo tem gostado de alguns números.

A Universidade Potiguar, de Natal, informou que dos 290 alunos bolsistas, 242 tiveram nota entre 7 e 9 e só quatro ficaram com nota menor que 7. O Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) relatou que bolsistas estavam entre os alunos de melhor desempenho em 17 cursos de 18 avaliados. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pinçou estes dados recentemente para afirmar que alunos do ProUni estão se saindo melhor que os demais.

À espera das instituições, o MEC acabou jogando para a frente também o início das inscrições. Começaria em 28 de novembro, passou para 5 de dezembro e agora está para começar no dia 12, terminando em 2 de janeiro - somente pela internet (http://prouni.mec.gov.br/prouni). É provável que no próprio dia 12 o MEC possa dizer quantas bolsas serão oferecidas para 2006.

SEGUNDA CHANCE: Foram mais de 20 anos longe das salas de aula até que a auxiliar de enfermagem Maria José do Nascimento Santos, de 47 anos, fizesse novamente uma prova. Motivada pela possibilidade de conseguir uma bolsa do ProUni para um curso de Enfermagem, ela se preparou em um cursinho popular e neste ano prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "É um sonho que eu sempre tive. Costumo falar que um dia eu faço e termino esse curso, nem que seja com 70 anos", diz.

Mãe de três filhos, ela trabalha como auxiliar em um consultório. Se tentaria o curso sem a bolsa? "Muito difícil. Seria bem mais complicado, como foi até agora", conta.

Difícil é pouco para descrever os trajetos que o desempregado Adilson Andrade de Jesus, de 45 anos, ex-morador de rua e atualmente vivendo num abrigo municipal, acredita que teria de percorrer para estudar. Ele concluiu o ensino médio e, depois, nunca mais estudou. Ficou sabendo do ProUni por intermédio de um anúncio na televisão. Fez a inscrição no Enem. Prestou o exame e teve média de 75,50 pontos na redação e 58,50 na parte objetiva - notas acima da média geral registrada no exame deste ano. "Quero uma vaga em Ciências da Computação. Sei que, com a média que tive, tenho alguma chance de conseguir", afirma, com um pouco de confiança.

Ele não sabe como fará o curso, caso consiga, mas diz que só voltou a pensar no sonho de ter um diploma quando soube que poderia ter uma bolsa.

PARA SE CANDIDATAR: É necessário ter feito o Enem. A renda familiar não pode ultrapassar um salário mínimo e meio por pessoa

INSCRIÇÕES: 12 de dezembro a 2 de janeiro de 2006, pelo site www.mec.gov.br/prouni

RESULTADO: será divulgado em 6 de janeiro. Os pré-selecionados deverão procurar a faculdade onde foram aceitos e apresentar a documentação