Título: Ceticismo cerca encontro sugerido por Lula
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2005, Economia & Negócios, p. B11

A proposta do presidente Lula de organizar uma cúpula antes da reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio em Hong Kong foi recebida com ceticismo pela União Européia. "Não sei se seria realista ou prática (a cúpula) neste estágio avançado do processo antes de Hong Kong", afirmou Peter Mandelson, comissário de Comércio da UE. Lula fez a proposta ao primeiro-ministro britânico, Tony Blair, pedindo que Londres liderasse essa cúpula nos próximos dias. Ontem, o governo britânico afirmou que poderia considerar a realização da cúpula. "Dissemos ao presidente do Brasil que poderíamos consultar sobre essa proposta depois do resultado do encontro do G-7 neste fim de semana", disse o porta-voz de Blair. Os ministros da Economia dos sete países mais ricos do mundo estão se reunindo neste fim de semana em Londres, e a OMC deverá ser tema de debate.

Os britânicos, porém, admitem que a reunião dependerá de outros países e da concordância do G-7. Segundo o ministro das Finanças do Reino Unido, Gordon Brown, todos os países precisam trabalhar para garantir um acordo em Hong Kong. Ele mandou um recado ao Brasil: "Acredito que existe uma oportunidade para avançar se os países preocupados com o acesso a mercado e serviços puderem fazer algumas concessões e se americanos e europeus puderem rever seu protecionismo agrícola".

A eventual cúpula foi também tema de debate entre os ministros dos cinco principais atores nas negociações da OMC, entre eles o chanceler Celso Amorim, que desde ontem fazem uma tentativa desesperada em Genebra para salvar a reunião de Hong Kong. "Precisamos de um envolvimento dos chefes de Estado nesse estágio", disse Amorim ao Estado, ao chegar a Genebra.

O encontro proposto por Lula teria como objetivo desbloquear as negociações e garantir que a reunião de Hong Kong, no dia 13 de dezembro, termine com resultados concretos. Os principais pontos de discórdia são os temas agrícolas e industriais. Países como o Brasil querem que a Europa abra seus mercados para as exportações agrícolas dos emergentes. De outro lado, Bruxelas insiste em que o Brasil e outros países em desenvolvimento precisam cortar tarifas de importação para produtos industriais.

A notícia pegou os governos de surpresa. "Não sei dizer se seria produtiva a reunião. Tenho de pensar nisso", afirmou o representante do governo americano para temas comerciais, Rob Portman. Segundo ele, a notícia da eventual cúpula foi enviada ao presidente Bush, mas "não temos uma resposta ainda".