Título: Tráfico queima ônibus e mata 5
Autor: Roberta Pennafort
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2005, Metrópole, p. C1

Para vingar morte de bandido, criminosos não deram chance de fuga a vítimas - entre elas mulher com bebê de colo

Numa das ações criminosas mais cruéis já ocorridas no Rio, traficantes de drogas invadiram um ônibus anteontem à noite na Penha, zona norte, jogaram gasolina no veículo e nos passageiros, atearam fogo e impediram que eles fugissem. Cinco pessoas morreram, entre elas uma mãe com um bebê no colo, e outras 12 sofreram queimaduras. Cinco suspeitos foram identificados, mas ninguém havia sido preso até o início da noite. Na guerra de traficantes do Rio já houve vários casos de ônibus queimados, mas os veículos tinham sido esvaziados antes. Dessa vez, os criminosos agiram com a clara intenção de matar. Segundo a polícia, o crime ocorreu em represália à morte de um traficante do Morro do Quitungo, Leonardo de Souza Ribeiro, de 22 anos, ocorrida num confronto com policiais militares na terça-feira.

Após o tiroteio, os traficantes convocaram moradores para fazer um protesto num acesso do morro, mas eles se recusaram, segundo a polícia. Por isso, os criminosos decidiram incendiar o ônibus. Às 22 horas, um grupo de dez rapazes desceu o morro e foi até a Rua Irapuá com quatro garotas. Elas fizeram sinal para um ônibus da Linha 350 (Passeio-Irajá), da Viação Rubanil. O carro parou e começou o terror.

O motorista Clóvis de Moraes Pinheiro, de 50 anos, que fazia a última viagem antes de ir para casa, foi retirado do veículo. Em seguida, dois bandidos entraram no ônibus, e, com garrafas de plástico de 2 litros, espalharam combustível sobre o chão, bancos e nos passageiros. Do lado de fora, outros criminosos lançavam pedras contra o veículo. Os bandidos não estavam armados.

Entre os mortos estão Vânia da Lúcia Barbosa, de 33 anos, e sua filha Vitória, de 1 ano e meio. O marido de Vânia, Rogério Mendes de Oliveira, de 27, teve queimaduras de 2º e 3º graus e está internado em estado grave. Os corpos dos outros três mortos estão irreconhecíveis. Para a identificação, deverão ser feitos exames de DNA.

É crítico o quadro de Viviane de Souza Eusébio, de 21, que ficou com 40% do corpo queimado. Estão internados a cobradora Ana Crispim Dias, de 48, e os passageiros Fábio Ferreira, de 31, Erika Bernardo, de 40, Francisca Adriana Lopes, de 30, e Roberta Teixeira Lopes, de 25 anos. Cinco tiveram alta.

"Foi uma ação terrorista, muito mais violenta do que as que costumamos ver", disse o titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), Luiz Alberto Andrade. O secretário da Segurança, Marcelo Itagiba, discordou: "Não há processo ideológico por trás dessa ação. Terrorismo é outra coisa."

Os morros da Penha foram ocupados ontem por 220 PMs. Entre os suspeitos do ataque ao ônibus está Paulo Rogério de Souza Paes, o Mica, de 27 anos, um dos líderes do tráfico no Quitungo