Título: Bem que avisamos, diz Skaf, da Fiesp
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2005, Economia & Negócios, p. B7

Para presidente da Fiesp, PIB em 2005 deve fechar em 2%, resultado 'ridículo' no ano em que o mundo crescerá mais de 4,5%

A queda surpreendente 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre foi muito mais conseqüência de erros na dosagem da política monetária e fiscal do que furto das apreensões geradas pela crise política, como tenta justificar o governo. Por esse motivo, a retração não foi novidade para o setor produtivo. "Reiteramos várias vezes que se continuasse perdurando a política econômica com juros altos e câmbio baixo haveria um desaquecimento e teríamos que lutar muito para tentar crescer 3% este ano", afirma Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Skaf diz não ter dúvidas de que o País deve fechar o ano com crescimento do PIB ao redor de 2%, ante 4% previstos inicialmente pelo governo e por alguns setores do empresariado. "Crescer 2% é ridículo em um ano em que o mundo vai crescer em média entre 4,5% e 5%. É um terço do crescimento médio dos países emergentes e quase um quarto do crescimento da Argentina".

O presidente da Fiesp aproveita para criticar setores mais conservadoras dentro do governo, concentrada no Ministério da Fazenda e Banco Central. "Há necessidade de mudança de mentalidade. "Tem que se ter menos poder na cabeça dos monetaristas e mais poder e espaço na cabeça dos desenvolvimentistas. O Brasil precisa de uma política que valorize a indústria, o trabalho, que não onere as empresas e tenha um nível de juros compatível com o resto do mundo".

Para demonstrar que a crise política não influenciou a queda do PIB, Skaf lembrou que o País o ano com retração no primeiro trimestre, quando não havia crise política, mas os juros estavam muito elevados. "Agora, quero saber qual a justificativa que vão (o governo) apresentar. Que não me venham falar que é efeito da insegurança devido à questão política, o que é uma desculpa esfarrapada. Se fosse assim, o dólar estaria bombando e a bolsa despencando e não o contrário, como vem acontecendo".

O presidente das Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), a queda do PIB foi determinada por uma série de fatores negativos, que inclui o esgotamento da capacidade de endividamento consumidor , a perda de dinamismo de alguns setores exportadores e e esse processo todo de alta dos juros. "A crise política é apenas um componente secundário).

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello, também considera que a queda do PIB é reflexo da política econômica equivocada do governo LUla. afirmou hoje que a queda do PIB no terceiro trimestre não foi uma surpresa para o setor de bens de capital mecânicos. "É bastante nociva para o setor produtivo a conjunção de fatores como a taxa de juros elevada, o câmbio extremamente valorizado, a "perseguição implacável" do superávit primário sem a liberação de verbas do orçamento para investimento e a alta carga tributária.

O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Guilherme Afif Domingos, afirmou hoje que a queda do PIB vai exigir do governo federal medidas mais contundentes de redução nas taxas de juros. Na sua avaliação, a economia do País "está com breque de mão puxado e os rolamentos presos".

O presidente da Gradiente Eletrônica Eugênio Staub afirmou hoje que o Brasil perdeu o rumo ao longo das últimas décadas. "Não sabemos tocar esse País como sabíamos no passado".

Staub, que foi um dos primeiros empresários a apoiar abertamente o presidente Lula, evitou fazer críticas diretas à atual administração federal. "Eu venho dizendo que só vou falar em política de novo na próxima encarnação", brincou o executivo. No entanto, ele fez uma série de comentários que atingem, mesmo que de forma indireta, o atual governo. Ao comentar a queda do PIB . ele afirmou: "me surpreende que isso surpreenda alguém; o que está acontecendo é uma conseqüência do que foi feito". Colaboraram: Elizabeth Lopes e Clarissa Oliveira